Crítica: Um Grito de Liberdade


Relações familiares são complexas, em particular entre pais e filhos. Um problema muito comum em várias famílias é a ausência de um ou ambos os progenitores. Por sua vez, existe o extremo oposto, quando não só são presentes, como também não conseguem largar seus filhos, acabam sufocando-os em seu excesso de atenção e proteção.

Nazli (Özge Gürel) provou dos dois lados com sua família: sua mãe, Aysle (Sumru Yavrucuk), por ter tido sua filha tão tardiamente em sua vida, acaba por sufocar sua filha, não sabendo quando deixá-la em paz; Por sua vez, seu pai, Osman (Tuna Orhan), é completamente ausente e ignorante em relação à filha.

Vivendo nesse ambiente complexo e até mesmo tóxico, Nazli decide partir para estudar em Istambul, e nunca mais retornar à sua cidade natal. Porém o destino tem outros planos para ela. Essa é a trama de “Um Grito de Liberdade” (Annem), terceiro longa do diretor turco Mustafa Kotan.

O grande tema da produção é a maternidade – o próprio título Annem significa mãe – e por isso acaba se focando no relacionamento entre Aysle, que sacrifica tudo por sua filha, para que não tenha o mesmo destino que esta teve; enquanto Nazli por sua vez, se vê sufocada por sua mãe, que é excessivamente protetora. É interessante como o filme acaba por mostrar o desenvolvimento dessa relação, o quanto ela influencia a jovem a acabar se afastando, e até mesmo mais para frente, como as duas entram em conflito.

Por sua vez, a forma como é representado este relacionamento possui um problema considerável: o exagero. Aysle continuamente age como se fosse uma criança, e como se a filha também fosse. Nazli é uma pessoa mimada, mas em um nível extremo, csempreirritada com a mãe. Claro que os personagens têm suas motivações, mas parecem agir agem além do necessário por estas.

Em vários momentos, quando o diretor não pede algo excessivo, vemos as atrizes Sumru Yavrucuk e Özge Gürel brilharem, e mostram porque são populares na Turquia. Sumru, em particular, é o que impede a personagem de se perder, pois o exagero de sua atuação possui sinceridade.

Uma parte que o filme não exagera, e acaba por ser muito boa é a narrativa visual: a fotografia representa bem o emocional das cenas, com boas escolhas de ângulos e de tomadas. Um exemplo é a forma como apresenta o isolamento de Nazli em sua vila, sempre em ângulos que mostram a personagem isolada, mesmo que esteja próxima de outras pessoas.

É provável que “Um Grito de Liberdade” faça boa parte do público que o assistir, chorar. É um título para quem gosta de produções dramáticas que emocionam por seus momentos bonitos e situações tristes.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes.