Crítica: Plano 75


“Plano 75” (Plan 75) traz a visão de um mundo saturado e pessimista, cheio de incertezas coletivas. Diante deste cenário, com os crescentes ataques de ódio contra idosos, o governo do Japão, sem solução para resolver a questão do envelhecimento dos seus cidadãos, cria o tal plano do título, que propõe o custeio de uma vida confortável para os últimos meses de vida, das pessoas com mais de 75 anos, que aderirem ao programa, onde a regra é aceitar a própria eutanásia.

Michi (Chieko Baishô), uma senhora com 78 anos, que ainda trabalha para poder se manter, e mesmo enfrentando muitas dificuldades, reluta em aderir ao plano – que não é obrigatório, mas parece que há uma indução do governo e da sociedade para fazer com que cada vez mais pessoas se entreguem a ele.

O cerco aos idosos se dá nas dificuldades de manter a própria sobrevivência, como a falta de vagas de trabalho – ou quando estes existem, são exaustivos para a idade – alimentação precária, a falta de dinheiro, e a deficiência de todos os amparos necessários para passar bem nesta fase da vida.

Michi é demitida e sua casa será demolida. Depois de tentativas frustradas para se reerguer, ela se inscreve no Plano 75. A partir daí, o filme segue seu dramático curso na preparação da protagonista, nos meses que antecedem sua morte.

Neste desenrolar, Hiromi (Hayato Isomura) – um bem sucedido vendedor do Plano 75, Maria (Stefanie Arianne) – uma filipina que trabalha como assistente no hospital onde são internados os idosos para a eutanásia, e Yôko (Yumi Kawai) – atendente do serviço de amparo ao idoso oferecido pelo governo, ajudam, de certa forma, Michi a desenhar seu percurso final. Mas, também vivendo seus dramas pessoais, são forçados pelo destino a tomar decisões, como desistir ou continuar, sobre viver ou morrer.

A interpretação profunda e serena de Chieko Baishô é emocionante. Com poucas palavras e, às vezes, sem elas, nos toca de maneira abundante, e nos faz chorar. É uma grande atriz, fazendo uma grande personagem. Sutil, porém intensa.

“Plano 75” nos faz refletir sobre urgências que o mundo está vivendo, com a formação de cenários que se assemelham aos das duas grandes guerras, onde o radicalismo, e o absurdo têm se espalhado desenfreadamente, e ideias insanas como esta, podem brotar rodeadas de falsas boas intenções.

Com direção de Chie Hayakawa, “Plano 75” é uma obra essencial, é um filme triste, lindo e emocionante.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Sato Company.