Crítica: O Sonho de uma Família
Dramas familiares são um prato cheio para a indústria cinematográfica. Onde houver uma produção do gênero, provavelmente haverá alguém no mínimo interessado, talvez porque todos já estivemos envoltos em nossos próprios dramas familiares, sejam eles mais profundos ou rasos.
A italiana Ginevra Elkann é a responsável pelo roteiro e direção de “O Sonho de uma Família” (Magari). A trama é apresentada por meio da percepção de Alma (Oro de Commarque): a menina de quase nove anos nunca viu os pais juntos, que se divorciaram quando ela era um bebê e Alma acredita que eles ainda podem ser um casal. Na imaginação da menina seus pais vão se reconciliar e assim ela terá uma família, mesmo que não saiba exatamente como isso é.
Como Alma é apenas uma criança, ainda acredita que mesmo após tantos anos haja amor entre seus pais. A menina até sabe que o casamento teve um fim devido à infidelidade do pai e que a mãe está grávida do atual marido, e mesmo assim se apega à realidade alternativa em que haverá uma conciliação – existe algo em nós que impossibilita o julgamento dos desejos da garotinha.
O filme entrega o que propõe? Sim e não, afinal, são muitos contextos, muitas histórias. Vemos o pai, Carlo (Riccardo Scamarcio), que é incapaz de cuidar sozinho dos três filhos por quinze dias – ele simplesmente não conhece as crianças e não entende as escolhas e limitações de cada um. Ao mesmo tempo, tenta reescrever um roteiro que já fora recusado, enquanto lida com sua amiga e parceira sexual Benedetta (Alba Rohrwacher) – que é comprometida com outra pessoa.
“O Sonho de uma Família” também se esforça em mostrar a individualidade de cada um dos irmãos mais velhos de Alma: Seb (Milo Roussel) e Jean (Ettore Giustiniani). A trama tenta apresentar uma paixonite de Alma por um rapaz mais velho, aponta a relação do pai com Benedetta, e a criação do elo entre ela e as crianças. Tudo isso enquanto desenvolve a conturbada relação dos filhos com o pai e as expectativas de uns com os outros.
O longa dispõe de muitas premissas, e em algum momento deixamos de ver por meio dos pensamentos de Alma, mesmo que esse momento não seja tão claro. De todo modo, mesmo em meio a tantas ideias há um clima leve – é como se estivéssemos assistindo a um capítulo que faz o resumo semanal de alguma novela. Aliás, mesmo que em sua concepção a produção tenha sido pensada como um drama, a maior parte passa bem longe disso.
Apesar de se às vezes se perder em meio a tantas histórias e personagens, a proposta de Ginevra Elkann chega a ser interessante, e vale conferir.
por Carla Mendes – especial para CFNotícias
*Longa assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.