Crítica: Saudosa Maloca


A ambientação remete ao passado no bairro do Bixiga em São Paulo. É tão real que chega a causar dúvidas. Será que foi mesmo assim? O quanto foi romantizada a vida dura e difícil na “Saudosa Maloca”?

Sabe quando um cantor não aguenta mais cantar em seus shows aquela música que foi – e é – seu maior sucesso, mas tem que fazê-lo, senão as pessoas, que muitas vezes foram ao show somente para ouvir tal canção, vão embora frustradas, decepcionadas? Essa é a sensação comum em parte do público.

A proposta não é a de um longa musical, nem de um filme biográfico sobre Adoniran Barbosa, isso está no título, a protagonista é a Maloca, a saudosa maloca. É sobre tudo que gira em torno dela, a maloca querida. Suas músicas não são cantadas, são contadas através de cenas, que estão entre o real e a fantasia, onde é melhor não saber a verdade e apenas deleitar-se.

Não há problemas com o filme, ele cumpre com o proposto e há qualidade em tudo. Mas para quem for, erradamente, na expectativa de curtir as músicas do Adoniran, vai se emburrar.

É a história de uma história, ou de algumas histórias do Adoniran, seus amigos, e a maloca. Paulo Miklos (Adoniran Barbosa), Gero Camilo (Mato Grosso) e Gustavo Machado (Joca) formam o trio de amigos que pensam sem sentir dor na sofrida maloca. Destaque para Leilah Moreno como Iracema, o grande amor de todos os solteiros de plantão.

Já naquela época, a especulação imobiliária derrubou o palacete abandonado, a velha maloca. Hoje, presenciamos a destruição e demolição de todas as malocas de São Paulo, e prédios e mais prédios vão surgindo neste deserto de edifícios. Talvez, devêssemos cantar, daqui para frente “Saudosas malocas, malocas queridas, din, din, donde…”.

Há um humor sutil e um drama leve nas músicas contadas do universo de Adoniran Barbosa. Um não compromete o outro, e essa dualidade traz um Adoniran mais mal humorado que suas músicas e uma vivência menos sofrida com os pesares da vida.

O diretor Pedro Serrano nos trouxe um fragmento do tempo, algo do tipo “certa vez, aconteceu isso… em algum lugar daqui do lado…” Muito interessante a proposta, mas ficou com um gostinho para um próximo episódio. Quais episódios vieram antes e quais virão depois? Essa é a primeira temporada ou a segunda? Se “Saudosa Maloca” não foi pensado para uma série, deveria. Fica a dica, pois há muito ainda que se contar dessa história.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Elo Studios.