Crítica: Os Caras Malvados
Definitivamente animações são capazes de nos transformar e fazermos sentir emoções que o live action, às vezes, não consegue. Quando um título do gênero atinge esse ápice, com reflexões, assuntos do cotidiano e temas pertinentes, ela é capaz de transcender a questão de “desenho” digital para algo real.
E “Os Caras Malvados” (The Bad Guys), dirigido por Pierre Perifel, é um exemplo muito claro de como uma animação pode sair dos moldes clássicos de bem e mal e trazer estas questões para todos os públicos.
Na trama, um grupo de criminosos animalescos composto pelo Sr. Lobo, arrojado carteirista, o Sr. Cobra, arrombador de cofres, o Sr. Tubarão, mestre do disfarce, o Sr. Piranha, fortão com pavio curto e a Sra. Tarântula, hacker de língua afiada, tocam o terror na cidade entre assaltos e auto afirmação como vilões.
Mas após anos de práticas e de se tornarem os mais procurados, a gangue é finalmente apanhada. Sem solução, o Sr. Lobo faz um acordo duvidoso para os salvar a todos da prisão: Os malvados vão se tornar bonzinhos.
O roteiro de Etan Cohen e Hilary Winston, baseado nos quadrinhos de Aaron Blabey, é recheado de comédia e aventura com rápida apresentação dos personagens, mas com profundidade. A abertura da animação (assim como grande parte do filme) é repleta de referência a filmes clássicos de assalto e espionagem, como Missão Impossível e Doze Homens e um segredo, repaginando com momentos icônicos interpretados pelos animais.
A opção de misturar humanos com animais concedidos como “malvados” dos contos clássicos, como o lobo-mau, não é uma escolha qualquer. Aqui, a mecânica é muito bem escolhida para demonstrar que o pré-conceito julga alguns indivíduos sem ao menos conhecê-los, e quando marginalizados, tornam-se característicos malvados, vilões e criminosos.
A animação traz ao centro da discussão se devemos ou não dar uma chance a eles, algo interessante, dada a faixa de idade do público-alvo, integrando a discussão não apenas para crianças, mas para adultos também.
“Os Caras Malvados” é uma animação que surpreende muito o espectador. A trama, que entrelaça amizade, dignidade e escolhas traz não apenas divertimento, como também reflexões profundas. A mensagem final é digna de nota, compreendendo que até mesmo os caras malvados podem ser os caras bonzinhos, quando as chances para que possa acontecer a mudança existe.
Uma opção excelente para se ver em família no cinema.
por Artur Francisco – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.