Crítica: Névoa Prateada


A sinopse da história destaca como um filme sobre vingança ou sobre amor, mas, para mim, “Névoa Prateada” (Silver Hazer) usa esses dois temas para trabalhar algo muito mais profundo: viver além da sobrevivência e resistir aos ciclos de autodestruição.

Franky (Vicky Knight) é uma enfermeira traumatizada física e emocionalmente com um incêndio que desestruturou sua família, obcecada por achar um culpado. Porém, ao se apaixonar por Florence (Esme Creed- Miles), descobrirá novas experiências, boas e ruins, que mostrarão um mundo além disso.

A trama acaba sendo guiada pela relação entre três famílias distintas: a de Franky com sua mãe e irmãos, a nova de seu pai e a postiça que ganha ao morar na casa de Alice (Angela Bruce).

Seus parentes mais próximos são cuidados por ela, praticamente uma continuidade de seu trabalho no hospital, com sua irmã sendo sua melhor amiga, mas cada familiar possuindo graves problemas e dando a impressão que Frank é única que tem a obrigação de trazer dinheiro para casa.

Já a família de seu pai é fonte de ódio, mas apenas observada à distância, visto como alguém que abandonou sua família original para começar uma nova na época do incêndio.

Franky vive em um ciclo de trabalho perpétuo, no qual a única distração é estimular o ódio dentro do próprio coração, sair para conhecer pessoas novas, entender suas vivências e descobrir formas reais de prazer. Ao mesmo tempo, sentirá diretamente uma nova série problemas íntimos e complexos envolvendo as novas figuras que conhece.

Sua namorada funciona quase como um espelho invertido: enquanto Franky é o foco e a cautela em extremos, Florence é a impulsividade ao máximo, entrando em surtos emocionais pesadíssimos com a mera sugestão de pensar sobre qualquer consequência dos seus atos.

Existe uma discussão nas mídias sociais sobre a necessidade real de cenas de sexo em um filme, em parte por seu uso exacerbado em obras sem conexão com o tema, que servem apenas para divertir o público masculino. “Névoa Prateada” no trajeto oposto.

No longa escrito e dirigido por Sacha Polak, as cenas mostram muito a postura da protagonista diante de múltiplas situações – como o contraste entre a quase apatia com seu namorado e a iniciativa que tem com a nova parceira.

Além disso, a personagem tem vastas queimaduras (parabéns à equipe de maquiagem que faz um trabalho excelente), então, as cenas funcionam para mostrar também a evolução da relação de Franky com o próprio corpo.

A obra nos mostra o quanto Franky está em um processo de reconstrução da própria psique, atrasada em quinze anos, por um acontecimento traumático e uma família que mal lhe dá amparo, um ciclo de altos baixos para conhecer melhor a si mesma e ao coração das pessoas.

Para os fãs de dramas e histórias de construção de personagens “Névoa Prateada”  é uma ótima escolha.

por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Bitelli Films.