Crítica: Zona de Exclusão


É difícil entender que a provação de uns, se torna deboche para outros. A face mais sombria do ser humano, que machuca quando presenciamos a satisfação que alguns sentem, ao torturar, violentar, humilhar e rejeitar, outros.

O filme “Zona de Exclusão” (Green Border / Zielona Granica) é ácido corroendo aos poucos, é um definhar de tudo o que é cômodo ou acomodado, é um auto reclamar: “reclamo de que?”. A crueldade, o prazer em ver seu semelhante sofrer, a tortura e quem a inventou, desfilam diante de nossos olhos, por causa de uns poucos líderes que dizem o que é certo ou errado, e povo tem que cumprir, sem mesmo saber o porquê.

Dramático, sofrido, triste. O filme é um dossiê da complexa e delicada situação dos refugiados, da crise humanitária que começou na Europa em 2015, mas com um roteiro que são os olhos de quem está observando tudo de dentro. Quem tem empatia, com certeza, irá se imaginar naquela situação de medo, de fuga, sem sol, sem cor, sem horizonte.

Muitas histórias se cruzam, como por exemplo, a de Leila (Behi Djanati Ataï), a tia de uma família de refugiados sírios, com Júlia (Maja Ostaszewska), uma psicóloga, que por obra do destino, se une a um grupo de ativistas, que trabalha para ajudar refugiados na fronteira da Polônia, com a da ditatorial, Belarus, e a redenção de um guarda da fronteira (Tomasz Wlosok), que protagoniza uma emocionante cena, onde se desepera com o próprio conflito de oprimir ou ajudar.

O que os refugiados buscam é chegar até a União Europeia, jamais voltar para o inferno de Belarus, enfrentando a rejeição da Polônia, que tenta burlar as decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia, e ter um pouco de paz em Varsóvia.

Tecnicamente perfeito, artisticamente fascinante. Causador de dor, nos deixa com uma sensação de depressão, nos agride por estarmos apenas assistindo de camarote, aos horrores das guerras, criadas por quem não as sofre.

“Zona de Exclusão”, da diretora Agnieszka Holland, é um filme impressionantemente real, assustador e magnífico.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.

Crédito das imagens: Agata Kubis.