Crítica: “Alfa”


A relação entre homens e cães é antiga: restos fósseis encontrados mostram que a domesticação começou durante a última Era Glacial (por volta de 20.000 anos atrás). E é sobre esse fenômeno que trata o filme “Alfa” (Alpha), dirigido por Albert Hughes, co-diretor de “Do Inferno” e “O Livro de Eli”.

O jovem Keda (Kodi Smit-McPhee) é separado de seu grupo, quando, durante uma caçada a Bisontes-da-estepe, se vê arremessado por um touro desse animal em um penhasco. Abandonado por darem-no por morto, Keda deve retornar à sua tribo. Para isso contara com a ajuda do lobo Alpha, que Keda resgata após ser ferido pelo humano ao tentar se defender, e também abandonado por seu bando.

Apesar de ser sobre um lobo, “Alfa” é um filme sobre um garoto e seu cachorro. Depois do primeiro momento de resistência de Alpha em relação a Keda, seu comportamento logo se iguala ao de um cão e seu dono. Isso não é ruim, ao contrário, este não é aquele longa comum da amizade rápida entre um animal e um humano, mas sim como o vínculo entre os dois vai se estabelecendo. Mesmo que tal formação seja rápida – Alpha de quando em quando age feito o lobo que é, nos lembrando que esse vínculo ainda é entre um lobo e um humano.

Outro ponto de destaque é a fotografia do filme, em especial o uso das tomadas panorâmicas para demonstrar um período em que a Terra era pouco habitada por humanos. Ainda neste quesito, particularmente durante o começo do filme, o uso das cores é interessante, reforçando a ideia da narrativa retratada.

Apesar de tudo, há um ponto negativo, que chega a ser incômodo: o protagonista Keda é um personagem extremamente hesitante, que não aparenta ter motivos para tal. E numa sociedade, em que ele foi treinado desde criança para se tornar o caçador, não parece ter motivo para ele ser assim. Numa comparação de um personagem que também doma um predador que ataca seus pares, Soluço de “De Como Treinar seu Dragão” é mais desenvolvido, e carismático. Sendo assim, o próprio Alpha se torna a estrela de seu filme homônimo, sendo muito bem treinado, e as cenas muito bem escritas para ele.

Um comentário para os aficionados por história e fatos: A produção segue a teoria de que o ancestral comum dos lobos e cachorros se dividiu em duas espécies, uma que seguiu os humanos, os primeiros cães, e outra, que continuou selvagem e se tornou ancestral dos lobos modernos. Apesar disto, os lobos usados e retratados no filme são modernos, o que pode ser visto como uma inconsistência, porém nada que atrapalhe a apreciação do título (eu mesmo sequer sabia, até ler sobre isso para essa crítica).

Por fim “Alpha” é um bom filme de aventura, principalmente para os fãs de cachorros, para ver onde nossos ancestrais se encontraram, e desde então andaram juntos.  Vale assistir mesmo quem não curta muito a pegada histórica, pois isso pouco impacta a relação entre os dois, e só vai ter mesmo relevância no começo da trama.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias