Autor da nova Graphic MSP em uma entrevista exclusiva pela Panini


Yoshi Itice assina a Graphic MSP Do Contra – Herança e fala sobre sua relação com a Turma da Mônica, sua ancestralidade japonesa e o processo criativo da obra.

O título, que chega aos leitores em março, é a 41º Graphic MSP lançada. E, para aliviar a curiosidade dos fãs, a Panini fez uma entrevista exclusiva com o autor pra saber um pouco mais sobre os detalhes da produção dessa obra.

Como começou sua relação com a Turma da Mônica?

Minha mãe é uma leitora voraz e sempre me estimulou a ler. Ela comprava muitos gibis e livrinhos quando eu era criança e, claro, Turma da Mônica fazia parte da coleção. Minha irmã e eu tínhamos muitas coisas da Turminha, até lençol de cama, por exemplo.

Como foi seu primeiro contato com o personagem Do Contra?

Ah, não lembro, mas ele sempre foi meu personagem favorito! Eu sempre gostei de coisas malucas e diferentes. Acho que eu tenho muito do espírito do Do Contra em mim.

Como foi produzir essa HQ, quais foram os desafios e as partes mais legais?

Produzir esse quadrinho foi um desafio enorme. Em vários sentidos. Eu tinha pelo menos quatro grandes objetivos com ele: fazer uma boa história do Do Contra; falar sobre cultura japonesa; respeitar o selo; ser algo de coração.

Meu primeiro obstáculo foi comigo mesmo. Eu queria muito falar sobre essa jornada que todo descendente de japoneses faz de autodescoberta e autoaceitação, enquanto metade brasileiro e metade japonês. Eu passei por isso, vi minha irmã passar, vi amigos, primos e colegas, cada um no seu tempo e no seu jeito de encontrar essa identidade. E meu pai também teve sua história com isso.

Quando ele faleceu, em 2019, essa minha conexão com o mundo japonês estremeceu de uma maneira que eu achei que nunca mais aconteceria. Eu achei que eu estava tranquilo com relação à esse assunto, mas eu não estava. Ter que encarar, refletir, escrever, ser o aluno e o professor nesse tema mexeu demais comigo. Escrever esse quadrinho foi uma baita terapia.

O segundo obstáculo foi com o personagem. O protagonista é quem empurra a história adiante e ele faz isso agindo. O Do Contra é um personagem reativo, ele reage às coisas e reage na direção contrária. Pra todo lugar que eu tentava levar a história, ele se rebelava e ia pro caminho contrário. Tive que domá-lo pra conseguir costurar tudo.

O trabalho todo foi muito intenso. Acho que eu trabalhava até dormindo, porque várias vezes eu acordava com ideias de soluções para elementos ou cenas. E eu queria usar tudo. Todas as referências, todas as sacadas textuais e gráficas e fazia um grande esforço mental pra conseguir amarrar tudo dentro dos dois temas de “ser do contra” e “ser japa”. E aí, toda vez que as pontas se amarravam era muito gratificante. Trabalhar com a turminha e o bairro do Limoeiro também é uma honra gigantesca e fazia a coisa toda ser mais divertida.

Como é sua relação com a ancestralidade japonesa e como isso se conecta com o personagem e a obra?

Do lado da mãe, meu avô veio de uma linhagem mais indígena e minha vó era bem europeia. Já do lado do pai, meus dois avós eram japoneses. A história toda da família é meio complicada, mas o resumo é que eu não conheci meus avós paternos, eles morreram bem antes de eu nascer.

Meu pai nunca foi muito ligado nas tradições japonesas e isso fez com que eu tivesse uma criação bem brasileira com arroz e feijão no prato e o jogo do Corinthians na TV. Só que os olhos puxados denunciavam e as pessoas logo me tratavam diferente. A infância toda eu tive muita dificuldade em aceitar esse lado.

Foi aos poucos, começando pela cultura, os mangás e animes, os jogos, os presentes que meus tios enviavam do Japão e depois fui aprender mais no curso de língua japonesa. Aos poucos, aprendi a ter orgulho e não vergonha. Esse processo todo eu quis colocar no Do Contra.

Mas acho que essa não é a única conexão que o personagem e eu temos. Quando fui anunciado como autor da Graphic MSP do Do Contra, vários amigos comentaram o quão perfeita era essa escolha.

Muitas vezes, em discussões, admito, eu gosto de discordar só por discordar. Gosto de experimentar umas misturas diferentes, seja na comida ou na hora de escrever uma história. É assim que nascem meus magos que são piratas cozinheiros e secadoras de roupa falantes. Se você disser que eu devo ir por um caminho, provavelmente eu vou tentar ir por outro.

Para saber mais sobre o autor na nova Graphic MSP Do Contra – Herança, a obra tem seu lançamento dia 18/03 e conta com um evento especial com sessão de autógrafos no dia 23/03, às 14h, na Panini Point Vila Mariana – Rua Domingos de Morais, 141, Vila Mariana, São Paulo (entre as estações Paraíso e Ana Rosa do metrô).

Sobre o autor:

Yoshi Itice é de Curitiba/PR, formado em Design Gráfico pela UFPR e pós-graduado em Histórias em Quadrinhos pela OPET/PR. Trabalha com HQs desde 2010 e já publicou webcomics, tirinhas, séries e novels fechadas, tanto por editoras quanto de forma independente. É autor da série Batsuman, do livro-jogo Last RPG Fantasy, da série Eventos Semiapocalípticos e agora da Graphic MSP Do Contra – Herança.

Sobre a Obra:

Do Contra encara, do seu jeito bem particular, as dificuldades de se identificar com o complexo mundo à sua volta. Afinal, ele é brasileiro ou japonês? Ou os dois? Em Herança, Yoshi Itice faz uma releitura do divertido personagem de Mauricio de Sousa, com muito humor, reflexão e até emoção. Menos para o Do Contra, claro.

da Redação CFNotícias