
Crítica: Viva a Vida
“Viva a Vida”, filme brasileiro com roteiro de Natalia Klein e direção de Flavia Prats Feffer, à primeira vista soa simples, mas abraça calorosamente a todos como pessoas diferentes e nos envolve em imersão multicultural que vale muito a pena assistir.
Apresentada à história da vendedora de um antiquário no Rio de Janeiro, Jessica, interpretada docilmente por Thati Lopes, começa devagar nos primeiros minutos, o que me causou uma incômoda pergunta “o que vem a seguir mostrará uma história previsível?”. Eu não podia estar mais enganada. De início, parece nos levar a um típico longa nacional: a dura rotina que remete às dificuldades e ao jeitinho brasileiro de sobreviver. Mas meu questionamento anterior foi logo cortado ao ser remetida à infância de Jessica, de pano de fundo.
O que delicadamente traz à luz as minhas próprias memórias de infância, desenha a personagem, fala de suas origens entre mãe (Clara Tiezzi), tias e avó em vários flashbacks muito bem inseridos. Assim como Gabriel (realística e convincente interpretação de Rodrigo Simas) e a história de acontecimentos que nos desviam, e nos abrem o coração à empatia dos momentos nostálgicos e familiares.
A leveza com humor do roteiro com maestria intercala gargalhadas e cenas tocantes, nos leva nos braços, em uma história de conexão, com um sopro de reencontro e genealogia. Mesmo com motivações materiais iniciais, acabam por se dissipar ao nos guiar em uma fotografia hipnotizante de Dante Belluti, digna de grandes estúdios de cinema, e de uma visita turística internacional às cidades santas que nos aproxima como seres humanos.
Há momentos tocantes, como o gesto feminino de conexão de gerações de família, movimento sutil, praticamente um easter egg disfarçado e que, ao longo de algumas peripécias, mostra a versatilidade de Jessica, sua visão obstinada e, até de certo modo positiva, com uma postura prática que nos conduz à aventura inicial proposta.
Também há vários alívios cômicos, que a produção domina e tempera com precisão. Meu favorito foram as três impecáveis freiras católicas tradicionais, extremamente convincentes de Sylvia Vianna, Orly Teveje e Sorella Engleder, que levaram-me às gargalhadas. A breve cena deliciosa do trio gravando um vídeo para seu canal na Internet ganhou meu coração.
Mas não fica por aí. Fui levada a uma aventura com diversas camadas ao ver o adorado Jonas Bloch preciosamente interpretando Benjamim, com a energia de resolver e até de se envolver em alguns dos apuros de Jessica e Gabriel. Remete até mesmo a reflexões, sem perder a história sobre solidão e solitude, deixar-se levar pela rotina e lidar com o conflito interno de não deixar a juventude interna envelhecer e se reconectar com sua amada, Hava, interpretada sabiamente por Regina Braga.
A trilha sonora, que envolve e abraça de maneira carinhosa, inclui músicas desconhecidas do público brasileiro é daquelas que deixa gosto na boca de sair flutuando do cinema e querer ouvir de novo.
Com final quase hollywoodiano, “Viva a Vida” é um filme com humor inteligente, acalentador, divertido e gostoso de ver, tal como o que se encontra em um abraço caloroso de uma mulher sábia, que me encantou do começo ao fim.
por Gabriela Pereira – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Elo Studios.