Crítica: Os Rejeitados
Alguns dos temas frequentes de filmes do diretor Alexander Payne são a solidão, a alienação, e a frustração, e não poderia ser diferente em seu mais novo trabalho, onde aténo título são refletidos: “Os Rejeitados” (The Holdovers).
A trama acompanha Paul Hunham (Paul Giamatti), um professor depressivo e misantropo de um internato de classe alta em Boston, enquanto ele deve tomar conta dos alunos que foram deixados durante as festas de fim de ano e as férias de inverno.
Tudo muda no momento em que a maior parte de seus pupilos restantes vai a uma viagem de esqui oferecida pelo pai de um destes, e apenas um de fato permanece: o inteligente e rebelde Angus Tully (Dominic Sessa), quando sua família não pode ser contatada para as devidas autorizações. Acompanhando os dois, também está a cozinheira Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), que perdeu seu filho na Guerra do Vietnam, e assim decide passar seu primeiro Natal sem ele na escola.
Embora a trama possa parecer clichê – três pessoas completamente diferentes, isoladas do mundo, começam uma amizade improvável – é a sensibilidade do tratamento desta que a torna excepcional, além de emocionante.
É claro que isto se deve em boa parte ao roteiro de David Hemingson, em sua estreia no mundo dos longas metragens. Sua experiência com colégios internos (ele mesmo foi aluno de tal tipo de entidade) guiou muito bem a criação do roteiro, e seus trabalhos com comédias para tv – em boa parte com desenhos animados – constroem uma dramédia equilibrada, que não se perde em suas próprias piadas, bem como não se esquece delas.
A direção de Alexander Payne também é fundamental para que o filme atinja os “acordes” emocionais certos. Seu trabalho consegue trazer o melhor do roteiro à tona, bem como de seus atores. Um mestre dos filmes “agridoces” ele não deixa de dar aos dramas, humor, mas sempre de forma mais intimista, explorando as dores das almas de seus personagens, bem como as pequenas alegrias de suas vidas.
No entanto, este aspecto mais íntimo do filme também é parte da direção de fotografia de Eigil Bryld, que, para isso, usou uma mistura de técnicas e takes modernos e do período em que se passa o longa, tornando o resultado fenomenal.
E não podemos nos esquecer das atuações do trio principal, que são, no mínimo, fantásticas. Paul Giamatti consegue tornar um misantropo irritante alguém carismático, porém, diferente da maioria das comédias nas quais atuou, rimos de seu personagem, enquanto sentimos suas dores.
Dominic Sessa, em seu primeiro crédito no show business, é uma grande revelação, e se continuar seguindo, se tornará um grande nome no cinema. Da’Vine Joy Randolph está incrível, roubando a cena sempre que surge em tela, trazendo um retrato emocionante da mãe enlutada, digno de todas as premiações às quais foi indicada e já ganhou com o longa – dentre elas um Globo de Ouro como atriz coadjuvante.
Por fim, “Os Rejeitados” é um excelente filme de Natal, mas que vale a pena ser assistido a qualquer momento do ano. Uma comédia que não perde a seriedade de seus dramas, cujos personagens vão divertir e comover a muitos espectadores, além de contar com uma direção que torna a experiência ainda mais emocionante.
por Ícaro Marques – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.