Crítica: O Senhor do Caos


Nos últimos anos, o terror tem buscado se reinventar como um gênero relevante frente aos problemas de bilheteria que o cinema enfrenta, seja resgatando o terror clássico com monstros construídos por maquiagem e efeitos práticos (como nos trabalhos de James Wan).

Ou ainda tentando reinventar o gênero, abandonando o jumpscare para investir  na criação de uma atmosfera perturbadora, que mexe com o psicológico do espectador, tal qual Ari Aster e Robert Eggers fazem em suas obras, as quais alguns atribuem ao subgênero conhecido como pós-terror.

Com direção de William Brent Bell, “O Senhor do Caos” (Lord of Misrule), tenta se apropriar dessa linguagem recente, mas, se perde ao tentar mesclar outros gêneros, e o resultado final soa confuso e, até mesmo, sem personalidade.

Na trama escrita por Tom de Ville, acompanhamos a reverenda Rebecca Holland (Tuppence Middleton), que assume o comando da igreja de um pequeno vilarejo inglês, quando em meio a um festival folclórico local, sua filha (Grace Evie Templeton) desaparece de maneira misteriosa.

Imediatamente, inicia-se uma intensa busca pelo paradeiro da garota, porém, conforme os dias passam, o comportamento dos moradores se torna cada vez mais suspeito, e Rebecca passa a questionar se o desaparecimento de sua filha foi culpa de algo realmente mundano ou se foi algo sobrenatural que abduziu sua garotinha.

Por conta do festival com referências pagãs que aparece no início de “O Senhor do Caos”, logo somos levados a acreditar que o filme irá se inspirar em clássicos do folk horror como “O Homem de Palha” (1973) e o mais recente “Midsommar – O Mal não espera a Noite” (2019), quando somos confrontados com o comportamento suspeito dos moradores, que vai se intensificando conforme a personagem principal passa a ser mais enfática em suas investigações.

Contudo, conforme a história avança, vemos uma cisão entre gêneros, sendo às vezes, o roteiro faz referências a filmes de investigação como “Os Suspeitos” (2013), enquanto em outros momentos, nos encaminha para concluirmos uma ação sobrenatural na situação do sequestro, com elementos de terror que remetem à A Bruxa” (2015) e “Hereditário” (2019).

É louvável a tentativa de William Brent Bell ousar em Hollywood na busca pela reinvenção do chamado terror psicológico, com uma abordagem mais investigativa.

Só que, com essa mescla de assuntos para despistar o público do plot twist final, o longa não consegue ser plenamente convincente em nenhum dos temas que explora em sua narrativa, mesmo com uma boa ambientação e atuações eficazes por parte do elenco.

“O Senhor do Caos” acaba sendo mais um exemplo de obras que buscam emular a linguagem de outros títulos com uma nova abordagem, no entanto, se perdem em sua própria ousadia.

por Marcel Melinski – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.