Crítica: A Bruxa


Qual é seu maior terror? O da jovem Thomasim, interpretada por Anya Taylor-Joy certamente era a família. Mudar-se para a Nova Inglaterra, um lugar sem nenhuma alma viva (pelo menos era o que achavam), no início do século XVII, somente com sua mãe, seu pai e seus quatro irmãos mais novos certamente é uma definição de horror.

“A Bruxa” (The Witch) é narrado de forma lenta, o que faz com que o espectador não perca absolutamente nada da história. Em alguns momentos, a narrativa é tão devagar que pode até causar algum incômodo, mas você fica alerta porque o longa deixa a plateia com o que pode acontecer, quem ou o que pode aparecer.

Há diversos elementos do ocultismo em cena, como um bode e um corvo. Gerações mais antigas acreditavam que o bode ouvia as lástimas dos pecadores, sem contar que também é uma figura muitas vezes associada ao demônio em diversas culturas. Na época em que o filme se passa, as pessoas acreditavam mais na Igreja e no poder do Clero de punir, o que gerava medo e apreensão, então os protagonistas que formam a família central do longa se consideram pecadores e essa é a mensagem passada em tela.

Dirigido por Robert Eggers, o filme traz à tona diversos significados mais abstratos do que literais. No imaginário popular, bruxas em geral “sugam energia”, o que as pessoas têm de bom, deixando-nas fracas, porque elas querem ter a força e o poder. “A Bruxa” fala principalmente dessas simbologias. A produção é bem ambientada, tem trilha sonora adequada e um elenco bem competente em suas atuações. Também conta com referências ao aclamado “As Bruxas de Salém” (drama de 1996), mas não vai muito além do medo superficial.

No mais, “A Bruxa” não é o tipo de obra que faz uso do suspense rápido para gerar um susto posterior. É provável que todos assistam calados, tentando entender as referências do ocultismo e o final certamente poderá ser temas de bons debates. Novamente, fica a pergunta: “Qual seu maior terror?” Talvez o longa, se bem interpretado, sirva para seu autoconhecimento.

por Mayara Almeida – Especial para CFNotícias