*Titulo assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.
Crítica: Não Abra!
Um bolo gostoso pode ser simples e com receita conhecida, mas com a mudança de um ou dois ingredientes gera algo novo o suficiente para não enjoar, ao mesmo tempo em que mantém a textura familiar.
Assim ocorre também com vários gêneros de filme, cuja repetição de fórmulas por vezes é pedida pelos próprios fãs, com apenas mudanças pontuais em alguns elementos, sendo o bastante para manter a diversão, se o básico for bem executado.
“Não Abra!” (It Lives Inside), longa-metragem de estreia do diretor Rishal Dutta (que também co-escreveu o roteiro e já tem experiência anterior com curta-metragens e clipes indianos), traz a fórmula clássica de assombração, mas temperado com uma cultura diferente de maneira detalhada e respeitosa.
A protagonista Sam (Megan Suri) vive conflitos com sua família, escola e comunidade, que seriam os habituais de uma adolescente na sua idade, acentuados pelos conflitos culturais originados de sua descendência indiana. Porém, Tamira (Mohana Krishnan), uma antiga amiga, retorna atormentada por uma maldição e se reconciliar com suas raízes será fundamental para salvá-las.
Os primeiros dois terços do filme são dedicados a investigar o mistério de assassinatos dentro da comunidade, enquanto Sam enfrenta visões cada vez mais aterradoras, em um clima de suspense crescente, para o terço final ser o embate com a entidade em si.
Como revelado no trailer e no pôster, a entidade estava presa em um jarro até ser libertada, o que dialoga diretamente com os títulos original e brasileiro da obra, contudo, esses títulos têm mais de um significado.
A criatura se alimenta dos sentimentos negativos para se fortalecer, tal qual ocorre em outros longas famosos como “Atividade Paranormal”, “A Hora do Pesadelo” e “IT – A Coisa”. Então os termos “It Lives Inside” (Ele vive dentro) e “Não Abra” também podem se referir aos sentimentos internos de raiva, medo e frustração que se acumulam dentro da protagonista sem ela saber como lidar com eles, e para quem se abrir, com medo de se machucar e machucar os outros.
Parte dessas emoções que energizam uma força das trevas é acentuada pelos olhares e posturas que ficam entre o medo e o nojo, em certos momentos do filme, que o resto da cidade tem – de forma suave, mas consistente – com os imigrantes indianos. A postura de defesa, na verdade, apenas fortalece a criatura.
A entidade maligna em si é tirada do folclore indiano e surpreende positivamente pela consistência de seus poderes ( após revelados não surgem habilidades novas sem explicação, apenas desenvolve-se o que já foi definido) e pela criatura final em efeitos práticos com o mínimo de computação gráfica ser bem feita.
A produção não se foca em sustos (jump scares) ou violência explícita (gore), é muito mais um suspense sobrenatural com tensão crescente, que bebe das experiências reais do diretor, seja no processo de adaptação ao país novo, seja nas lendas contadas pelos avós, mostrando o processo de crescimento, quedas e redefinições da protagonista e seus familiares.
Distribuído pela Imagem Filmes no Brasil, “Não Abra!” é para quem gosta de um suspense sobrenatural, assim como para aqueles que desejam ver como outras culturas interpretam conceitos como fantasmas e demônios de maneira própria e que vale a pena ser conhecida.
por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias