Crítica – Mouse Trap: A diversão agora é outra


“Vamos ligar para o 911 e dizer que tem um cara vestido de Mickey que se teleporta querendo matar a gente”

A ideia de personagens infantis famosos ganharem obra de terror – ainda por cima slasher – assim que entram em domínio público, pode parecer estranha, contudo, existem dois fatores que favorecem muito esse tipo de produção.

Primeiro é um formato de baixo orçamento com alto retorno, já consolidado há décadas. Em segundo lugar, essa liberação de direitos autorais na verdade é sempre parcial, uma vez que múltiplos produtos derivados foram criados por anos e ainda estão sob proteção jurídica.

Então, para se criar algo novo, é importante fazer algo que fuja muito das derivações pré-existentes. Histórias de terror a partir de contos infantis é um jeito de se livrar de eventuais processos da Disney.

Dito isso, vamos para “Mouse Trap – A diversão agora é outra” (The Mouse Trap). Aqui, Alex (Sophie McIntosh) é funcionária de um parque de diversões que precisa fazer hora extra para conseguir as contas. Justamente na noite que seus amigos resolvem visitá-la, um maníaco mascarado ataca o lugar causando um banho de sangue. Talvez nem tanto sangue assim, já que o orçamento limitado reduz muito as cenas de gore.

O grande trunfo é seguir a fórmula do slasher tradicional, sem se levar a sério. A introdução deixa isso bem claro, com um letreiro que tira sarro da produção não ter nenhuma conexão com a Disney. O que é reforçado pela trama ser contada de duas formas: o filme em si exibindo cada acontecimento, e o depoimento de uma sobrevivente para dois policiais – que mostra bem a bizarrice da situação, acentuada ainda mais pela incompetência dos interrogadores. Isso é importante para diminuir o impacto negativo das atuações ruins, a falta de cenas de mortes, a trilha sonora quase inexistente e a história diminuta. Mas a narrativa tem seus acertos necessários para deixar o longa divertido.

O assassino vestido de Mickey (Simon Phillips) é bem caracterizado como um fã de obras antigas que é possuído por uma entidade, age se divertindo e aterrorizando suas vítimas antes de dar um golpe fatal (talvez um influência de “Terrifier”). E o ambiente das perseguições – um parque infantil inteiro – ajuda a criar uma atmosfera interessante para os acontecimentos, como se todo local fosse uma grande ratoeira (a tradução de Mouse Trap), para o assassino pegar suas vítimas. O que me faz recordar do ambiente da maioria dos jogos de Mascot Horror como “Five Nights at Freddy’s” , que já ganhou uma adaptação cinematográfica de sucesso, o que faz sentido, já que são a base de toda uma linha nova de títulos de terror que chegarão ao cinema nos próximos anos.

O maior pecado do filme, sendo justamente um slasher, é a falta de mortes elaboradas e de uma caracterização maior para a protagonista. Considerando que os créditos de abertura mostravam cenas de “Stemboat Willie” (que está em domínio público), com uma música sinistra, imaginava que o assassino usaria justamente as ações do Mickey na animação como base para sua crueldade, coisa que não aconteceu. Fica a dica para cineastas que desejem ir nessa linha.

Longe de ser “o pior filme do ano”, como alguns veículos de imprensa soltaram, “Mouse Trap: A diversão agora é outra” é um terror slasher menor, mas ainda divertido para os fãs do gênero. Inclusive, em minha opinião, mais bem feito em vários aspectos do que o primeiro filme da franquia “Pooh – Sangue e Mel”.

por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.