Crítica – Ursinho Pooh: Sangue e Mel


O gênero slasher possui uma variedade incrível de desdobramentos. Inspirada nos filmes Giallo (filmes policiais italianos dos anos setenta, focados na perseguição de assassinos exóticos), a categoria gerou clássicos como “Halloween”, “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo” nos anos seguintes.

Simultaneamente, explodiu a linha de slasher menores, produções simples, de baixo orçamento, feitas como intuito de diversão pura brincando com a estética, sem se levarem tão a sério, mesmo não sendo comédias.

Até as grandes franquias citadas muitas vezes caíram nesse gênero, à medida que as ideias se esgotavam, mas ainda tinham um público ávido por diversão, antes da onda atual de remakes.

“Ursinho Pooh: Sangue e Mel” (Winnie-The-Pooh: Blood and Honey) segue essa linha de slashers menores, um filme de horror gore que brinca com a ideia de bichos de pelúcia da infância virando ameaças mortais. Neste caso, usando o ursinho Pooh de base, aproveitando-se da entrada em domínio público de suas histórias.

Na trama, Christopher Robin (Nikolai Leon) fez amizade com criaturas estranhas quando criança, animais antropomórficos de origem desconhecida. Quando os revê, após concluir a faculdade, descobre que se tornaram monstros assassinos.

Ampliando a narrativa, temos ainda a garota Maria (Maria Taylor), apoiada por um grupo de amigas, indo passar um tempo, isolada na região do Bosque dos Cem Acres, uma casa para relaxar e superar um trauma recente envolvendo um criminoso, sendo o grupo pego de surpresa no meio na matança.

A fotografia e montagem dos cenários são o que mais surpreende nas técnicas, gerando realmente um ambiente sombrio e sangrento bem característico, dando assim, um bom clima para as cenas de perseguição e morte, o grande foco da obra.

Apesar de ser o grande atrativo, Pooh (Craig David Dowsett) não é quase explorado, sendo quase um assassino genérico com super-força. Nesse aspecto, o slasher secundário, o homem-porco Leitão (Chris Cordell ), amigo de Pooh, é bem mais caracterizado, seja pela máscara de javali, seja pelo eixo de ação em correntes e martelo como armas. Assistiria sem problemas a um filme só dele como diversão casual.

O principal momento em que a obra original dos livros infantis realmente é retrabalhada é na introdução de 10 minutos. Nela, temos uma animação fofa que vai ficando macabra à medida que mostra a degradação moral das criaturas. Depois, passando para o estilo live action com Robin visitando o bosque mágico do passado, agora adulto com tudo devastado.

Isso daria um ótimo curta metragem de terror por si só, antes de virar um filme mais genérico de slasher,  com referências pontuais aos acontecimentos da introdução, desenvolvimento de personagens quase nulo, trilha sonora apenas funcional e a história servindo como um fio de união bem fino, porém eficaz, para justificar os acontecimentos macabros.

Por outro lado, mesmo de forma não intencional, a obra pode nos fazer refletir do quanto retomar grandes paixões da infância pode ser traumatizante, especialmente com grandes problemas do passado sendo acobertados e acumulados pelo viés da nostalgia.

Nem para fãs de sustos ou de suspense, mas sim para os amantes de filmes gore de videolocadoras dos anos 80 e 90, incluindo aqueles que gostaram de “Terrifier 2”, fica minha recomendação de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”. E, caso goste do filme, vale dizer que há uma continuação e longas do gênero focados em outros personagens clássicos em pré-produção, pela mesma empresa e pelo mesmo diretor, Rhys Frake-Waterfield.

por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela California Filmes.