Crítica: O Primeiro Dia da Minha Vida

“O Primeiro Dia da Minha Vida” (Il Primo Giorno della mia Vitta / The First Day of my Life) é um belo filme, carregado de declarações de amor à vida. É uma história fictícia, na qual quatro suicidas têm uma nova possibilidade de rever sua decisão, orientados por um homem desconhecido (interpretado por Toni Servillo), de quem pouco ou nada se sabe.

Arianna (Margherita Bruy), cuja morte repentina da filha a deixa totalmente abalada; o menino Daniele (Gabriele Cristini), alvo de cruel zombaria e carente de amor paterno; Emília (Sara Serraioco), jovem atleta de nível internacional que ficou paraplégica por um leve erro cometido na barra de competências acrobáticas; e Napoleone (Valerio Mastrandea), homem ciumento que amarga o fracasso matrimonial.

Situado numa espécie de limbo entre a vida e a morte definitiva, eles terão sete dias para analisar o que fizeram, podendo ratificar ou retificar a decisão. A tentativa do misterioso personagem que os conduz a esse renovado momento decisivo será mostrar que existem outras possibilidades, que talvez estejam equivocados ao avaliar suas próprias vidas e as atitudes dos demais. Ele lhes oferece a oportunidade de verem outras perspectivas diferentes, mais alentadoras, até o ponto de quererem continuar vivos.

Cada um dos quatro vai revisitando sua vida e o seu final, que está congelado transitoriamente, e experimentando momentos emotivos e emocionantes, fazendo muitas observações e reflexões sobre a felicidade (“está em nossas mãos”; “quantos serão realmente felizes nesta cidade”; “não há garantias, mas tem que buscá-las”).

E outros como: ”O difícil que é ver que a vida continua sem nós, não porque seja maravilhosa ou terrível, senão porque continua de qualquer maneira, muitas vezes das formas mais surpreendentes”. “Todos vamos embora da vida. E depois vêm outros, que nos substituem. Mas, ao mesmo tempo, somos únicos”. “Ainda os pais [e outras pessoas importantes] podem prejudicar-nos”. “(Às vezes) tem que ser dado sentido à dor”.

Paralelo às reflexões, há diálogos densos entre os quatro (todos suicidas na mesma cidade e dia) e o personagem estranho. Literariamente, poderíamos compará-lo talvez ao poeta Virgílio que acompanha Dante em sua jornada em “A Divina Comédia”, que tudo vê e (quase) tudo explica.

Todos parecem concordar com a percepção de que aquele que se suicida perde muitas coisas, sobretudo a possibilidade de conhecer futuramente outras pessoas e viver renovadas situações e experiências. Para aquele que está cansado de lutar pode ficar a expectativa de que talvez valha a pena viver e lutar mais ainda.

A essas sequências somam-se outras como a valorização do amor, da comida e das coisas belas da vida, e se sucedem algumas, excessivamente simples e até superficiais, mas, como um todo, não comprometem o enredo. Poderia também ocorrer um “efeito bumerangue” para quem não tem tendências suicidas saber que ao morrer vai perder muito.

No que se refere às técnicas e a narrativa cinematográfica, o filme é bastante simples e fácil de ser entendido. Escrito e dirigido por Paolo Genovese (13º longa-metragem), a partir de seu livro homônimo, tem a boa atuação de Toni Servillo (39º longa), que está corretamente acompanhado pelos demais, em especial por Sara Serraiocco.

Ratificando o dito no início: “O Primeiro Dia da mMinha Vida” é uma produção que apresenta tristeza, nostalgia e esperança. Mas, em especial, realça a vida e procura distanciar os eventuais suicidas de seu objetivo, de um modo positivo.

por Tomás Allen – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Pandora Filmes.