Crítica: Zumbilândia: Atire Duas Vezes
Um dos fenômenos mais curiosos no cinema é quando um gênero se esgota, devido à produção exaustiva de filmes sobre o assunto. Seja por obras de qualidade cada vez mais baixas, ou por outros de qualidade técnica interessante, mas na qual os roteiros não conseguem atingir o motivo pelo qual esses filmes se tornaram alvo da moda da época. Um exemplo disto são os épicos relacionados à magia e aventura após o lançamento do primeiro título da série “Harry Potter”.
Por sua vez, quando isto ocorre, os filmes de sátira a estes gêneros começam a surgir com frequência. E muitas vezes estes serão responsáveis por reacender a chama do modismo. Um exemplo é o filme “Pânico”, que no momento de decadência dos “Slashers” com protagonistas jovens, não só faz uma excelente sátira ao gênero, como trouxe de volta à moda este estilo quase morto.
No meio dos anos 2000, com a refilmagem de “Madrugada dos Mortos” feita por Zack Snyder, os filmes de zumbi lentamente começaram a retornar ao foco das atenções. Até o fim dessa mesma década, os títulos sobre mortos que voltam à vida estariam esgotados, e o marco disto foi outra refilmagem de um trabalho de George Romero, “Dia dos Mortos”, cuja qualidade é completamente questionável, pelo menos em roteiro.
Em 2009, no entanto, um filme daria projeção e energia novamente aos filmes de zumbi (ao menos nos EUA): “Zumbilândia”, um sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria, ao trazer ideias novas e frescas ao gênero. Um exemplo disto é o crescimento dos personagens: enquanto nos outros longas do gênero o foco é no apocalipse zumbi, ou na crítica social associada a estes, ele se foca na evolução dos personagens em meio ao caos.
“Zumbilândia: Atire Duas Vezes” (Zombieland: Double Tap) é a tão aguardada e protelada sequência do longa de 2009, que vem sido anunciada e desenvolvida desde que o lançamento do original. Curiosamente, depois de 10 anos sendo discutido e produzido, o filme não está aquém do primeiro, como ocorrem com sequências, particularmente com aquelas que ficam tantos anos no forno.
A trama segue os protagonistas do antecessor – Tallahassee (Woody Harrelson), Columbus (Jesse Eisenberg), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) – em novas aventuras na Zumbilândia – EUA após ser tomado pelos zumbis. Desta vez, há preocupação em demonstrar um pouco como o mundo mudou durante este período de 10 anos. Além disso, o roteiro se abre a novas ideias de sátiras (inclusive à própria franquia), e a ideias que nunca existirão com o colapso da civilização em 2009 (como o Uber).
Apesar de se focar um pouco mais na construção do mundo ao redor dos protagonistas, o filme consegue manter o elemento de desenvolvimento dos personagens, sem perder a qualidade. Desta forma torna-se mais amplo e também foge de ser uma repetição paulatina do primeiro.
As atuações encaixam perfeitamente na ideia dos personagens: Woody Harrelson é o machão típico, Jesse Eisenberg é o perfeito nerd com TOC e cheio de tiques, Emma Stone é esquiva e fechada, enquanto Abigail Breslin é a que tem a maior evolução – também de sua atuação.
Talvez uma das maiores críticas sejam os exageros na ação. Seu antecessor era uma comédia de terror, com elementos de ação. Agora isso se inverteu e a sequência se tornou uma comédia de ação com terror para pontuar, o que pode desagradar alguns fãs.
No geral, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é uma excelente pedida. Uma sátira feita na medida certa aos filmes de zumbi e a nossa sociedade moderna. Vale a pena conferir, mas não sem assistir ao primeiro, para não ficar perdido na história.
por Ícaro Marques – especial para CFNotícias