Crítica – Um Lugar Silencioso: Dia Um
Quando o primeiro capítulo da franquia “Um Lugar Silencioso” foi lançado em 2018, sua proposta foi aclamada pela crítica por respeitar a inteligência do espectador e inovar ao tornar todo e qualquer ruído algo a ser temido no universo do filme – elemento esse que contagia quem o assiste e resultou na sessão de cinema mais silenciosa que já tive a oportunidade de presenciar.
Sendo “Um Lugar Silencioso: Dia Um” (A Quiet Place: Day One) a terceira parte da saga, poderíamos imaginar que a fórmula teria se desgastado e que a trama seria uma repetição do que vimos antes. Ainda bem que isso não acontece e somos agraciados com uma narrativa dramática e coesa, que introduz o universo para quem não assistiu aos longas anteriores, enquanto desenvolve de forma madura e melancólica os protagonistas apresentados em tela.
Dessa vez, não acompanhamos a família Abbot e sim a personagem Samira (Lupita Nyong’o), que, junto ao seu gato Frodo (Nico / Schnitzel), tenta sobreviver ao primeiro dia da invasão que deu origem aos monstros atraídos por sons. O principal diferencial é a forma que mostra a queda do mundo que conhecemos, após os alienígenas chegaram ao planeta, ainda não dando muitas explicações sobre sua origem ou propósito.
“Um Lugar Silencioso – Dia Um” se preocupa mais em desenvolver o drama pessoal de sua protagonista, ainda assim apresenta, gradativamente, as características de seus antagonistas – tanto suas habilidades, quanto suas fraquezas – de forma orgânica dentro da narrativa, essa característica faz com que a produção seja amigável para novos espectadores.
A fotografia de Charlotte Bruus Christensen é algo que salta aos olhos, com planos maravilhosos que situam o público em uma Nova York devastada pela invasão das criaturas e, apesar dos cenários pós-apocalípticos, eles ainda carregam certa beleza ao destacar o que há de melhor na cidade, mesmo em seu pior momento.
Outro aspecto que não poderíamos deixar de citar é a sonoplastia, já que o som é algo tão importante para o filme, tanto em sua trama quanto em sua construção como obra cinematográfica. A película se mantém somente com diálogos pontuais, a trilha de Marco Beltrami é bem conduzida e ajuda a ambientar o drama dos personagens. Porém, como era de se esperar, o silêncio é o protagonista, pois é sua quebra que provoca a tensão no público e esse fator é brilhantemente conduzido na narrativa.
Apesar de não trazer essencialmente nenhuma novidade para o que já foi estabelecido, “Um Lugar Silencioso: Dia Um” desenvolve de forma competente o drama de seus personagens, com atuações primorosas de Joseph Quinn e Lupita Nyong’o, uma fotografia belíssima e um design de som maravilhoso.
Em suma, o longa consegue agregar novos fãs à saga, enquanto apresenta um ponto de vista diferente dos eventos que definem esse universo para aqueles que acompanharam de perto o drama da família Abbot presente nos primeiros filmes.
por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paramount Pictures.