Crítica: Um Homem Diferente
Condições físicas e neurológicas podem parecer um desafio para qualquer ator no cinema, seja a interpretação de um personagem específico ou a representação daquela condição dentro do contexto do filme.
Em sua grande maioria, Hollywood vem discutindo esse paradigma cada vez mais em suas produções. Um indivíduo com deficiência visual interpretando um personagem com a mesma condição. Um ator TEA interpretando o mesmo personagem em um filme. E assim por diante.
Mas, em “Um Homem Diferente” (A Different Man), essa estratégia parece ser abordada de forma diferente. Escrita e dirigido por Aaron Schimberg, a trama é sobre Edward (Sebastian Stan), um homem com Neurofibromatose e suas dificuldades cotidianas.
Sua vida muda completamente ao ter acesso a um medicamento experimental capaz de regredir à condição física para “normal” e Edward começa a experimentar a vida sob um olhar (seu e de outras pessoas) diferente.
Por se tratar de uma doença rara, Sebastian Stan, um ator sem nenhum tipo de condição especial, interpreta um homem utilizando uma maquiagem especial, que por muitas vezes é evidentemente impossível dizer que é maquiagem.
A forma como o texto e direção trabalham deixa clara a discussão em torno dessa situação e este é um dos pontos mais importantes do filme. Além disto, a atuação de Stan é um primor, conseguindo ecoar para o espectador todas as dificuldades e anseios que um indivíduo com Neurofibromatose pode ter, aparentemente.
Contudo, o roteiro de Aaron Schimberg é ardiloso e muito perspicaz ao romper completamente a narrativa imposta no primeiro ato. É impressionante como o debate sobre “feiura” e normalidade vão de zero a cem no segundo ato.
Principalmente ao escalar Adam Person (interpretando Oswald), um homem que tem Neurofibromatose e seu personagem é justamente alguém que se aceita da forma que é e consegue cativar todos os indivíduos em sua volta.
O debate é profundo e muitas vezes quebra-se o gelo com risadas claramente constrangedoras. O longa chega num momento do cinema pós “A Substância”, onde há grande a discussão sobre a beleza humana e até que ponto alguém precisa chegar para ser aceito pela sociedade. Porém, elementos presentes na produção estrelada por Demi Moore e Margaret Qualley são enxergados aqui, quase que uma narrativa muito semelhante, que evidentemente bebem de uma mesma fonte em comum.
“Um Homem Diferente” tem um elenco muito bem escolhido, que apresenta uma interação natural, junto a uma direção coesa e preparada para uma conversa tão complexa. É um filme que vale a pena ser visto no cinema, em especial pela filmagem que explora ambientes pequenos, mas muito bem enquadrados, que contrastam com os elementos dispostos nas cenas.
por Artur Francisco – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Clube Filmes.