Crítica: Pelé
Se existe algo incontestável entre os brasileiros é que Pelé é o Rei do Futebol. Não é preciso muita coisa para concordar com isso, já que estamos falando do único jogador da história a ganhar três Copas do Mundo (uma delas com apenas 17 anos) e um dos poucos a ultrapassar a marca de 1000 gols marcados.
Pegando de gancho todo esse talento e as comemorações dos 80 anos do craque, a Netflix lançou em sua plataforma o documentário “Pelé”, que resume os principais momentos da carreira do atleta.
E estamos falando de um ótimo resumo. Claro que não podemos nos esquecer das outras obras que citam a trajetória de Edson Arantes do Nascimento. Por exemplo, o documentário “Pelé Eterno”, de 2004, é o melhor disparado, pois aborda de forma completa a vida do Rei, além de trazer diversos lances inacreditáveis do Camisa 10 do Santos, como o famoso gol marcado contra o Juventus da Mooca, na Rua Javari, em que dá um chapéu (típico drible em que joga a bola por cima do oponente) na defesa adversária inteira.
Neste novo filme, o que vemos é um resumo muito bem feito que passa pelos pontos principais da carreira de Pelé, como o tricampeonato da Copa do Mundo da Seleção Brasileira, em 1958, 1962 e 1970, além do seu milésimo gol, marcado contra o Vasco, em 1969, no Maracanã.
Aliás, um diferencial bem legal é poder ver algumas imagens coloridas do primeiro Mundial conquistado pelo Brasil, na Suécia, já que a maioria dos registros oficiais da época é preto e branco. No entanto, o maior trunfo desse documentário é comentar com mais afinco o lado político do craque, que não gostava de falar sobre o tema enquanto jogava. Aqui, podemos entender o medo que ele sentia na hora de se manifestar publicamente.
Vale lembrar que entre as décadas de 1960 e 1970 o país vivia a Ditadura Militar (o golpe ocorreu em 1964). Esse, sem dúvida, é um período terrível e cruel da história brasileira, pois tirou a liberdade de expressão dos indivíduos com o decreto do Ato Institucional Número 5 (AI-5), em 1968. Com isso, as manifestações contra o governo eram proibidas e quem as fizessem era preso e violentamente torturado. Por isso, havia muito pavor na hora de emitir uma opinião.
Pelé foi uma dessas pessoas. Pelo menos é o que afirma o jornalista Juca Kfouri, que compara o 10 da Seleção com o pugilista americano Mohammad Ali. “Ali sabia que nada aconteceria com ele se fizesse uma crítica. Pelé não”, diz o cronista esportivo durante o melhor depoimento do filme.
Para quem gosta de futebol, “Pelé” vale muito ser visto. Por mais que deixe de fora lances marcantes, ele sabe celebrar a carreira do astro de maneira precisa e bonita. É emocionante ver sua genialidade ao fazer seu primeiro gol em Copas do Mundo, contra o País de Gales, em 1958, e sua visão de jogo aguçada ao passar a bola sem olhar para Carlos Alberto Torres marcar o lendário gol nos 4 a 1 contra a Itália, na final de 1970.
por Pedro Tritto – Colunista CFNotícias