Crítica: O Garoto do Leito 6


Bianca (Carolina Crescentini) é uma pediatra que leva uma vida invejável, com um marido amoroso e conforto. No entanto, está à procura de um novo emprego, pois após o período de demissão, engravida.  Com dificuldades para encontrar um trabalho, ela acaba aceitando o turno noturno em um hospital infantil, na ala da UTI, vaga liberada com o suicídio de sua predecessora, justamente na sala dos médicos. Além disso, coisas estranhas começam a acontecer, e todas parecem se conectar com o misterioso menino do leito de número 6.

Esta é a trama de “O Garoto do Leito 6” (Letto numero 6), estreia da diretora Milena Cocozza, que tem um considerável trabalho como assistente de direção e diretora de segunda unidade de vários longas e séries italianos. Disponível na plataforma Cinema Virtual.

A escola de filmes de terror italiana é uma das mais influentes, junto a de Hollywood. Ela vai ser responsável pelos títulos mais apelativos do gênero desde o fim dos anos 1960. No entanto, “O Garoto do Leito 6”, foge desta tradição. A produção em si tem poucas cenas que envolvem horror corporal – justamente uma de suas qualidades é criar uma atmosfera sinistra para que o terror funcione, desta forma dependendo menos dos jumpscares.

Tal atmosfera é criada, em particular, pelo uso da música, extremamente apropriada, cheia de sons dissonantes e ritmos incomuns, fazendo com que se crie uma sensação de desconforto no espectador. A fotografia, ainda que seja escura e sombria, poderia ser mais bem utilizada.

No entanto existem dois problemas: o primeiro se trata do uso de cenas que só existem por função de terem um tom macabro e sinistro, mas que não servem para nada na narrativa, não levando a lugar algum; o segundo é parecer muito com outros títulos de terror, como “A Aldeia dos Amaldiçoados”, “O Grito”, e “Invocação do Mal”, sendo que poderiam amenizar as semelhanças e referências, diminuindo essa sensação.

As atuações estão no geral apenas razoáveis, embora conte com bons atores: Pier Giorgio Bellocchio não colabora com um roteiro já pouco convincente de seu personagem; Roberto Citran, consegue trazer a arrogância de seu personagem, porém nada mais que isso; Carolina Crescentini, por sua vez, parece sofrer mesmo antes do começo das coisas sinistras ocorrerem, e mesmo com uma gravidez, talvez fosse melhor dar um destaque à mudança da personagem.

“O Garoto do Leito 6” é um típico trabalho de estreia: cheio de ideias boas, não tão bem executadas, e ligeiramente derivativo. Ainda que não seja tão bom, mostra um potencial a ser refinado da diretora, e vale a pena ficar de olho nas próximas produções dela.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.