Critica: Missão de Sobrevivência


No meio de tantos títulos que glorificam a guerra ou mesmo que levam o ponto de vista de apenas um lado, “Missão de Sobrevivência” (Kandahar) é, certamente, diferente. Baseado nas experiências de um ex-soldado, o filme mostra que os conflitos atuais são muito mais complexos do que parecem e que é muito difícil (ou mesmo impossível) distinguir qual é o lado certo e o errado.

Na trama escrita por Mitchell LaFortune, Tom Harris (Gerard Butler), um agente disfarçado da CIA, é exposto e fica preso em território hostil no Afeganistão, depois de uma missão de sabotagem. Acompanhado de seu tradutor, Mohammad ‘Mo’ Doud (Navid Negabah), ele tem que lidar com o fato que ninguém irá resgatá-los e que, se quiserem ser salvos, eles precisam chegar a um ponto de extração em Kandahar. Apesar de próximo, o problema é que até chegar ao local, o protagonista terá que desviar de diversos inimigos que querem prendê-lo a todo custo.

O longa se vende como ação, mas seu maior componente é o drama, o que pode causar insatisfação em quem espera assistir a uma produção recheada de cenas de ação, sem muita reflexão. Coloca o espectador em uma situação inesperada, pois não há simplesmente um herói e um vilão estabelecido. Pelo contrário, a maior parte dos personagens está tentando sobreviver em um ambiente cercado de conflito, em que muitos lutam por aquilo em que acreditam. A história tem uma carga de melancolia e mostra que, no meio da guerra, todos têm a perder.

Gerard Butler não é ruim como o agente inglês Tom, mas também não é muito memorável. Quem realmente rouba a cena com sua atuação é Navid Negahban, como o tradutor Mohammad ‘Mo’ Doud, um afegão que fica preso entre os conflitos de sua terra natal, precisando lidar com sua vontade de voltar pra casa, nos Estados Unidos, e tendo que sobreviver ao lado de um agente inglês.

Apesar de contar com algumas soluções fáceis e meio batidas, “Missão de Sobrevivência” não tenta glamourizar a guerra, nem o trabalho como agente secreto, apresentando as coisas de uma forma mais “crua”, o que pode causar um estranhamento no grande público.

Distribuído no Brasil pela Diamond Films, o longa conta com uma bela fotografia que o torna interessante visualmente, mesmo contando com poucos cenários – basicamente pequenas cidades do Oriente Médio e muitos quilômetros de deserto.

No final, “Missão de Sobrevivência” tem mais melancolia do que adrenalina e se propõe a fazer um retrato mais fiel dos conflitos no Oriente Médio, fugindo de uma abordagem simplista e maniqueísta.

por Isabella Mendes – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.