Crítica: Madame Teia
Assim como “Venom” e “Morbius”, “Madame Teia” (Madame Web) é a nova empreitada da Sony para emplacar personagens coadjuvantes do universo do Homem-Aranha em versões cinematográficas.
A personagem apareceu originalmente na publicação “The Amazing Spider-Man” numero 210, sendo criada pelo roteirista Dennis O’Neil e pelo ilustrador John Romita Jr. para ser uma espécie de guia para Peter Parker.
Dirigida por S. J. Clarkson, a produção para os cinemas toma inúmeras liberdades criativas em relação ao material original, o que de fato não seria um demérito, se tivesse uma boa condução narrativa.
Entretanto, recebemos uma obra que parece deslocada no tempo e indecisa quanto a sua proposta claramente alterada em função do mercado, o que ocasionou que o resultado final fosse uma colcha de retalhos que não consegue desenvolver plenamente nenhum dos conceitos que apresenta.
Na trama, acompanhamos Cassandra Webb (Dakota Johnson), uma paramédica que atua na Manhattan durante o ano de 2003. Após se acidentar atendendo uma vítima de acidente de carro, ela passa a ter visões sobre eventos futuros – a mais latente envolve um assassino implacável com poderes de aranha e as jovens Julia Carpenter (Sydney Sweeney), Mattie Franklin (Celeste O’Connor) e Anya Corazon (Isabela Merced), que serão atacadas por ele, caso Cassandra não intervenha.
Indo na contramão da maioria dos títulos de super-heróis recentes, “Madame Teia” não investe nos poderes físicos de sua protagonista, sendo assim, não existem confrontos diretos na maior parte do tempo. Cassandra tem uma espécie de sentido de aranha amplificado, permitindo que ela consiga usar o cenário e objetos ao seu redor para se livrar do vilão Ezekiel Sims (Tahar Rahim).
Este persegue a protagonista e suas protegidas tal qual em um longa de Slasher. Esse elemento consegue trazer um frescor para o gênero pela sua criatividade, porém, a condução deixa a desejar, em especial nas cenas de ação, com efeitos datados ou com soluções muito mirabolantes, capazes de tirar o espectador da imersão.
Apesar de o filme ser relativamente curto, as subtramas entediantes que surgem no decorrer da história deixam a condução cheia de barrigas e invalidam o senso de urgência que quer nos vender. A estética lembra muito um produto de herói do inicio dos anos 2000, momento em que a indústria ainda tinha medo de assumir os collants coloridos e os poderes mirabolantes.
Em momentos pontuais, “Madame Teia” nos oferece exatamente esses elementos, como se quisesse lembrar o público que ainda faz parte desse gênero, e essa dissonância prejudica sua conclusão, que apela para elementos muito diferentes dos apresentados em seus dois primeiros atos.
Nessa leva de produções de super-heróis medíocres, que vem desagradando o público em geral, “Madame Teia” se enquadra perfeitamente no momento que o gênero vem enfrentando, e mesmo possuindo o fator criatividade na construção da sua narrativa, a execução atrapalha demais o resultado final.
O longa não é o pior projeto que a Sony já entregou inspirado no universo de Homem-Aranha, mas, infelizmente, é nítido que as regravações, os atrasos e vários outros processos nos bastidores, acabaram impactando de maneira negativa a obra, a ponto dela não conseguir se sustentar nem como filme isolado, nem como parte de uma empreitada maior.
por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Sony Pictures.