Crítica: Hora do Massacre


Os grupos de fóruns de discussão na Internet se tornaram um verdadeiro pesadelo real para o mundo contemporâneo. Lá, se encontra de tudo um pouco: desde grupos focados a disseminar ódio e notícias falsas, até organizações terroristas que utilizam esses espaços digitais sem monitoramento para mobilizar suas ações.

Visando construir seu roteiro em cima desses grupos formados em fóruns, o longa “A Hora do Massacre” (Wake Up) se apropria da fórmula dos clássicos slashers dos anos 1980 e 1990, para apresentar uma trama que, mesmo simplória, equilibra muito bem a violência que tal gênero pede, com a crítica aos grupos online que mais alienam do que informam.

Na trama acompanhamos um grupo de jovens associados a um grupo de ativistas ambientais que invade uma loja de móveis – supostamente sustentáveis – para fazer uma ação subversiva após a loja encerrar seu expediente.

Porém, após a morte acidental de um dos vigias noturnos, seu companheiro é tomado pelo ódio e passa a caçar o grupo com técnicas de caça primitiva que aprende online.

O roteiro – às vezes expositivo – deixa clara a inadequação social do vigia Kevin (Turlough Convery), homem de meia idade apresentado com um temperamento explosivo e dificuldade em lidar com pessoas do sexo oposto, construindo-o quase como um Incel (celibatário involuntário), tal qual os que vemos destilando ódio nas redes sociais.

Em contraponto a Kevin, temos o grupo de jovens aspirantes a ativistas, que, apesar do discurso coerente, comportam-se mais como adolescentes buscando diversão e engajamento nas redes sociais.

Esses arquétipos do cotidiano contemporâneo são justamente os personagens que vão encarnar a velha perseguição de predador e presa tão presentes em filmes slasher, contudo, a obra dirigida pelo grupo RKSS – Road Kill Superstars (formado por François Simard, Anouk Whissell e Yohan-Karl Whissell) é sagaz em construí-los inspirados em grupos reais e antagônicos.

O filme é econômico em sua produção, ambientando toda a trama em poucos cenários que compõem a loja de móveis, mas é bem criativo em gerar tensão se aproveitando dos corredores labirínticos existentes em decorrência às disposições das prateleiras.

Outro fator que deve ser ressaltado são as elaboradas armadilhas montadas por Kevin para alvejar as vítimas, nos remetendo a uma versão sangrenta do que vimos em “Esqueceram de Mim” (que, inclusive, tem também um protagonista com o mesmo nome).

Com uma atmosfera que lembra o terror construído pelas produções “O Homem nas Trevas” e “Halloween”, “A Hora do Massacre” vai um pouco além em seu roteiro (escrito por Alberto Marini), entregando um slasher movie bem competente, abrindo mão de aprofundar o back ground de seus personagens, para assim criá-los em cima de arquétipos que criticam o fato do extremismo na Internet nos levar a nosso estado mais primitivo.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.