Crítica: “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”


Desde que Avi Arad conseguiu o feito de vender os direitos cinematográficos dos personagens de uma Marvel a beira de falência, algumas empresas tiveram a oportunidade de explorar um recurso financeiro considerável. Homem-Aranha, e outros personagens, foram vendidos ao estúdio da Sony Pictures, que tinha em mãos uma galinha de ovos de ouro.

Desde o começo dos anos 2000, a Sony vem produzindo diversos longas-metragens do herói, obtendo arrecadações de bilheterias grandes e, em muitos casos, filmes de boa qualidade. E, desde o lançamento da animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” – onde somos apresentados a Miles Morales (voz de Shameik Moore), nada na mitologia do personagem no cinema foi a mesma.

Nesta quinta-feira, 1º de junho, chega aos cinemas a sequência “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” (Spider-Man Across the Spider-Verse) com um objetivo muito, mas muito difícil: ser minimamente tão bom quanto seu anterior, vencedor do Oscar de melhor animação em 2019. E não apenas isto, mas coube aos diretores Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson a missão de manter a coerência e qualidade da história.

Diferente de “Através do Aranhaverso”, aqui temos uma introdução e aprofundamento de uma das personagens chaves do filme anterior: A SpiderGwen (ou Mulher-Aranha), entendendo ainda mais sua perda e motivações para se tornar heroína. Um acerto gigantesco do roteiro que não apenas divide melhor o protagonismo do filme, mas também prepara terreno para os eventos que acontecem ao longo da trama.

Sobre o roteiro, desta vez creditado a Phil Lord e Christopher Miller, este é um dos pontos mais elogiáveis da animação. A complexidade e aprofundamento na ideia do ‘o que é ser um homem-aranha’ é muito bem explorada, nunca antes visto nos filmes anteriores da Sony. Aqui, não apenas a ideia da picada da aranha especial que torna Peter Parker (ou outros personagens) um super-herói, mas também suas perdas, seja do Tio Ben ou Gwen Stacy, deixa claro que é o sofrimento o principal motivo no multiverso para tornar-se um Homem-Aranha.

Então, de maneira excelente, a história brinca com a ideia de “e se um determinado acontecimento de perda e luto do Homem-Aranha não acontecesse?”. E tudo isso junto a um visual artístico único que foi ainda mais aprimorado. Uma sequência não apenas com intuito de arrecadar dinheiro, mas que se preocupa com melhorias visuais e torna a animação cinematográfica. Cada universo tem sua característica, seu estilo, cada personagem é representado de forma única e sem ficar estranho quando posto ao lado de outros completamente diferentes.

Outro ponto muito interessante é como a abordagem de tantos universos conseguiu ser bem encaixada. É um show de referências e easter-eggs seja de animações antigas ou até mesmo de produções live-action. E não apenas os heróis, mas vilões estão bem representados, cada qual com seu estilo único.

A única coisa que faz falta é uma trilha sonora marcante como foi no primeiro filme. Ainda estão presentes as batidas sonoras de hip-hop e rap, além de acordes monumentais clássicos e heroicos, mas uma música cantada, como foi “Sunflower” de Post Malone e Swae Lee, fez uma grande falta, principalmente nos momentos ápices do longa.

A animação acerta em diversos pontos e aprimora ainda mais outros do título anterior. É um espetáculo visual, com um roteiro excelente que expande a mitologia do herói, ao mesmo tempo em que explica muito bem para aqueles que não são familiarizados. Na sessão para imprensa, assistimos à versão legendada e as vozes do primeiro filme continuam incríveis e cheias de emoção, mas desta vez o destaque fica claramente para Oscar Isaac (Miguel O’Hara) e Daniel Kaluuya (Spider-Punk), que não apenas roubam a cena quando aparecem, como também demonstram a qualidade e o cuidado técnico da dublagem.

Por fim, “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” é um filme lindo que merece sem dúvida ser apreciado em uma tela de cinema, em IMAX de preferência.

por Artur Francisco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Sony Pictures.