Crítica: Fale Comigo
“Fale Comigo” (Talk to Me), novo título do estúdio A24 e distribuído pela Diamond Films Brasil, é um terror que deve dividir opiniões. Dirigida por Danny e Michael Philippou a trama é sobre um grupo de amigos que descobre uma mão embalsamada que permite conjurar espíritos. Viciada na emoção, Mia, personagem de Sophie Wilde, vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual.
A trama é bem estabelecida, com um universo bastante rico e completo para explorar em outras sequências. O interessante no roteiro é o estabelecimento de que a mão embalsamada – que parece mais de gesso – pertencia a um indivíduo médium com capacidade de se comunicar com espíritos, permitindo-os possuí-los. Após sua morte, ambas as mãos foram embalsamadas e aqui vemos o destino de uma delas.
Essa imersão, incluída na narrativa de maneira natural, é um ponto muito positivo. O filme foca muito mais nas tensões entre cada personagem, aprofundando os sentimentos e laços que cada um possui. Sophie Wilde carrega muito bem uma personagem com história pregressa triste, melancólica e que se apega a seus amigos com medo da solidão, após a repentina morte de sua mãe.
E é sobre essa morte que as consequências do longa se entrelaçam. A história é muito mais sobre perdas, lutos e sentimento de pertencimento a alguém ou a um grupo, tornando um um filme que pende para o gênero dramático. Porém, o terror, aqui representado mais na forma de suspense, foca nos momentos de toque a mão mágica e isso acaba deixando muitas cenas previsíveis.
Veja bem, o filme está longe de ser ruim, mas vendê-lo como o melhor terror do ano é como dizer “bom, não há nenhum filme do tipo neste ano, então nós temos o melhor”. É uma forma diferente de explorar o gênero, sem sombras de dúvida, porém é importante salientar que o cerne se encontra não na tensão e gradualmente o suspense entre as personagens, mas sim no gore e terror psicológico propriamente dito.
E “Fale Comigo” tem potencial para isto, mas ainda pouco explorado. As atuações são boas, o universo criado é bom, a atmosfera com palhetas mais escuras também, porém a escolha de gênero parece ter sido infeliz.
Por fim, este é um bom começo de franquia para a A24. Uma produção de baixo custo e rápida (que aliás com cerca de 90 minutos consegue se resolver bem), mas que poderia ser melhor aproveitada. Vale a pena ver no cinema? Depende do tamanho de sua expectativa e do quanto você comprou a ideia vendida até a estreia nas telonas.
por Artur Francisco – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.