Crítica: Eu, Capitão


Como falar sobre “Eu, Capitão” (Io, Capitano) sem dar spoiler? Quando o filme iniciou, não tinha ideia de que caminho ele ia percorrer. Parecia mais um longa mostrando a pobreza e o sofrimento do povo africano, na visão de um cineasta intelectual europeu.

Buscando uma pista, sobre algo que pudesse ao menos justificar o título, um tanto estranho para o contexto que se via, percebe-se atento quando menos se espera, e envolvido com a história de dois primos adolescentes senegaleses, Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall), e como está sendo bem contada, mesmo que não se saiba muito para onde vai.

A história vai se desenvolvendo, e não há um minuto que cause desatenção. Aos poucos vamos entrando na saga destes meninos em busca da realização do sonho de uma vida melhor na Europa.

Os bastidores da vida real, com intenso lirismo e poesia, na visão do diretor Matteo Garrone, mas não menos suave em relação à gravidade da migração. Para os que têm empatia, foi difícil não se imaginar naquele sofrimento todo, não somente dos meninos, mas de todo um povo desesperado. A questão da migração e do tráfico de pessoas é muito bem ilustrada, causando angústia e tristeza, por derramar no público o lado mais perverso do ser humano.

Ao sair da sala de cinema, escutam-se vários comentários do público presente, tipo “e se o diretor tivesse feito isto, ou aquilo, e se não fosse ideológico, e se fosse mais real, etc, etc, etc”. Mesmo com tantos críticos de plantão, julgando mais que apreciando, os se entregaram ao filme receberam uma obra de arte belíssima, bem dirigida, emocionante, com fotografia incrível e atores muito bem preparados – com destaque para Seydou Sarr, que mesmo tão jovem, encontrou uma profundidade na construção de sua personagem, e que curiosamente tem o mesmo nome que o seu.

 

“Eu, Capitão” é um justo concorrente ao prêmio de Melhor Filme Internacional no Oscar 2024, que irá acontecer no próximo dia 10 de março.

E sobre o título da produção, somente os minutos finais revelam seu significado, que vem como um bálsamo catártico.

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Pré-Estreia promovida pela Pandora Filmes.