Crítica: Clube dos Vândalos


Gravado em 2022, e com o lançamento previsto para o ano seguinte, “Clube dos Vândalos” (The Bikeriders), o diretor Jeff Nichols enfrentou diversos percalços para finalmente conseguir lançar seu longa, desde a greve dos roteiristas de 2023, até a desistência do estúdio em distribuir o projeto.

Após uma longa espera, a película estrelada por Austin Butler e Tom Hardy finalmente chega às telonas, dividindo opiniões ao apresentar uma trama focada no desenvolvimento dos personagens com um pano de fundo permeado pela amizade e violência que envolve as gangues de motociclistas norte-americanos.

A história é contada do ponto de vista de Kathy (Judie Comer), que relata para um documentarista como se envolveu romanticamente com Benny (Austin Butler), o membro mais impulsivo e violento do grupo Vandals.

Criado e liderado por Johnny (Tom Hardy), para se reunir com os amigos amantes de motocicletas, pouco a pouco o grupo cresce e se envolve com brigas, praticando atos criminosos, saindo do controle de seu fundador e ameaçando o romance entre Kathy e Benny.

Para quem gosta de histórias que envolvem gangues e brigas, talvez “Clube dos Vândalos” não seja tão eficaz, pois, mesmo retratando a violência de forma bem dinâmica em tela, o filme prefere focar seus esforços em desenvolver seus personagens e entrelaçar seus relacionamentos com o crescimento dos Vandals.

Apesar do mote principal da trama ser o relacionamento entre Kathy e Banny, Tom Hardy / seu personagem Johnny frequentemente rouba o protagonismo, ao apresentar as motivações e contradições do líder da gangue, tornando-o o personagem mais complexo e humano de todo o longa.

Um dos aspectos mais marcantes da película é sua direção de áudio: a trilha sonora  foi muito bem selecionada e acompanha o desenvolvimento da trama, começando com músicas dos anos 1960. Conforme os Vandals saem do controle, a trilha passa a tocar faixas mais pesadas e agressivas.

A sonoplastia também é algo a ser destacado, afinal, o tempo todo o filme utiliza o ronco dos motores das motos para demonstrar a intenção dos personagens. Se em alguns momentos o som chega a incomodar, acredito que tal desconforto foi inserido de maneira proposital pela direção.

Por apresentar uma história sobre motociclistas, o longa apresenta cenas de perseguição e viagens em vários momentos de sua narrativa, com cenários que alternam entre cidades pequenas no meio oeste norte-americano em meio aos anos 1960 e estradas com paisagens exuberantes, as quais transmitem a sensação de liberdade que motociclistas relatam sentir ao correrem por esses locais.

A fotografia é muito competente em retratar as localidades e, em meio a tantos títulos que abusam da tela verde, é um respiro ver um que aproveita o mundo real para construir sua atmosfera.

No final, “Clube dos Vândalos” é um estudo de personagem bem interessante em meio a um gênero pouco provável.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.