Crítica: Black to Black

O casamento entre a vida conturbada de astros do rock com Hollywood não é algo recente, várias estrelas da música já tiveram suas biografias retratadas na telona e, muitas delas foram ousadas o suficiente para explorar tanto os momentos de ternura, quando os momentos de loucura que essas personagens viveram em suas trajetórias.

Por conta disso, “Back to Black” (Back to Black) que propõe adaptar a vida de sucessos e excessos de Amy Winehouse era tão aguardado, pois, assim como as músicas da cantora de Jazz, sua vida particular também se mostrava deveras interessante. Entretanto, mesmo com esses elementos ao seu favor, o filme explora de forma muito modesta as nuances que uma artista de seu calibre possuía.

A diretora Sam Taylor-Johnson escolheu contar a história da cantora dando ênfase a seus momentos mais marcantes na vida pessoal e em sua carreira. Essa passagem de tempo pode soar meio confusa para aqueles que não conhecem a fundo a trajetória de Amy.

Isso porque a trama se passa em um período de nove anos e não existem nem marcadores de tempo ou mudança na idade aparente da atriz. Tudo que temos são alternâncias entre os figurinos que a cantora usava em vida, e não é o suficiente para situar o público em geral na passagem de tempo da trama.

Outra questão a ser ressaltada como um problema é a forma moderada de como os excessos e escândalos em que a cantora se envolveu em vida são retratados. Na maior parte do longa, ela é representada como uma moça com personalidade forte, mas, ainda sim meiga e sentimental.

Esse excesso de moderação também ocorre na construção de Blake (Jack O’Connell), o parceiro de Amy que recebe muitas criticas dos fãs e da família da artista por ter apresentado drogas mais pesadas a ela, o que eventualmente a levou a uma intensa dependência química. Mesmo que o relacionamento deles seja retratado em alguns momentos como problemático, ele é construído como vítima.

Com um roteiro ameno em comparação à vida real de Amy Winehouse, o elenco principal desempenha muito bem seus respectivos papéis. A protagonista Marisa Abela consegue emular os trejeitos da cantora, tanto em sua atitude de palco, quanto em seus ataques de fúria registrados por paparazzis obstinados a invadir a vida pessoal da cantora.

“Back to Black” é um filme competente, conseguindo resumir de forma satisfatória os eventos mais importantes na vida de Amy Winehouse, com uma trilha sonora maravilhosa e atuações competentes. Consegue se manter relevante e divertido mesmo não fazendo justiça à vida interessantíssima que uma das cantoras mais relevantes de nossa geração.

Talvez o maior problema do longa seja a forma como retrataram Amy, e ironicamente é algo que ela fala com todas as letras na narrativa que ela não queria que fizessem, de transformaram Amy Winehouse em um Spice Girl.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.