Crítica: A Estrela Cadente
No início, “A Estrela Cadente” (L’etoile filante) causa certa estranheza. Até se entender que esta é a proposta, não se sabe se gosta ou desgosta.
Gestos e marcações de um mal interpretado teatro brechtiano, ou algo experimental, em uma aposta desajuizada de humor inglês, não classificam definitivamente o estilo deste filme.
Fato é que esse desconcertante nonsense torna-se engraçado quando se banha no ridículo. Esperto é quem sabe tirar proveito desse desarrumado longa, abandonando todos os conceitos e preconceitos, pois ele se torna incrível, justamente por toda essa bagunça.
Com uma trama de filme quase policial, e quase de suspense, Boris (Dominique Abel) é um barman ex-ativista, que esconde seu passado e que vive uma vida dupla. Tem seu sossego perturbado, quando uma vítima dos seus tempos radicais volta em busca de vingança.
Neste contexto, surge um sósia de Boris, Dom (Dominique Abel), que, conjuntamente com a perspicaz esposa de Boris, Kayoko (Kaori Ito), e um amigo, Tim (Philippe Martz), desenrolam um curioso plano de fuga, mas que pode ser atrapalhado pela ex-mulher de Dom, Fiona (Fiona Gordon), uma confusa detetive em busca incessante de paradeiro.
O roteiro por si só foge ao compreensível, não diz de onde vem e nem para onde vai. A necessidade de transparência é o que nos deixa completamente mal acostumados, um tanto preguiçosos, e bastante imediatistas.
A velocidade psicologicamente imposta a nós seres humanos nos dias de hoje, nos faz impacientes com obras onde temos que refletir, pensar e repensar, para só depois termos uma ideia consistente sobre o que foi visto.
Passado alguns dias depois de apreciar, ou não, a obra, vem um flashback que nos faz pensar que o grande idiota fomos nós, ao debochar do estranho e deslocado filme, porque ele sim é um grande deboche com a nossa cara, com a cara de quem se acha muito esperto e conhecedor de cinema, é uma zombaria com os críticos metidos a intelectuais da sétima arte. As gargalhadas chegam com delay.
“A Estrela Cadente” tem roteiro e direção de Dominique Abel e Fiona Gordon.
por Carlos Marroco – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Pandora Filmes.