Crítica: A Queda
É preciso exaltar a coragem daqueles que têm como esporte / hobby escalar montanhas. Pessoas que passam a vida sem imaginar o que sentem os que têm acrofobia, apenas por pensar na possibilidade de estar em lugares de alturas que nem sempre precisam ser consideráveis para assustá-los.
Becky Connor (Grace Caroline Currey), sua melhor amiga Shiloh Hunter (Virginia Gardner) e seu marido Dan (Mason Gooding) fazem parte desse grupo que encara com naturalidade o fato de estar com a vida por um fio (ou, nesse caso, por uma corda). Mas, quando um acidente fatal acontece – logo no início de “A Queda” (Fall), a realidade ganha outro contorno, com uma dose bem menor de adrenalina.
Cinquenta e uma semanas se passam antes de Becky ser convencida por Hunter a voltar a escalar, num cenário completamente diferente – saem as montanhas, entra a B-67, uma torre de televisão desativada, cuja estrutura nitidamente comprometida não parece ser um problema para a dupla se aventurar.
Com 600 metros de altura, a obra localizada no meio do deserto parece convidativa para gerar (questionáveis) visualizações nas redes sociais e simbolizar a reaproximação das amigas que, embora tenham personalidades tão opostas, parecem se entender bem. Tais comportamentos diferenciados ficam ainda mais em evidência durante uma sequência envolvendo um cervo (que, imediatamente fez eu me pegar torcendo contra qualquer êxito que a “pseudo influencer” Hunter – agora conhecida como Danger D – pudesse ter no decorrer da narrativa).
É claro que as coisas não saem como esperado e, assim que chegam ao topo da torre, a escada lateral – que já dava indícios de problemas desde os primeiros degraus – despenca, fazendo com que fiquem presas a uma diminuta plataforma, sem suprimentos (já que a intenção era retornar ao hotel em que estavam hospedadas em poucas horas) e sem nenhum tipo de comunicação, uma vez que os celulares não têm sinal àquela altura.
Encontrar uma maneira de sair dali passa a ser a única prioridade das personagens, que, além de tudo, ainda precisam lidar com perigos que surgem sob a forma de abutres famintos (atraídos pelo ferimento de uma delas) e o mau-caratismo de quem não faz nenhuma menção de ajudá-las, no único momento em que isso parece possível.
A combinação isolamento / desidratação / desespero não parece a melhor no que diz respeito à manutenção de segredos e, quando estes vêm à tona, a relação de Becky e Hunter é posta à prova mais uma vez, e é isso que vai nortear o suspense até seus momentos finais, quando uma revelação faz do que seria um filme bastante simples e previsível (não que isso seja um demérito), algo surpreendente.
Passado quase em sua totalidade na tal torre, o suspense dirigido por Scott Mann (que escreve o roteiro junto a Jonathan Frank) ainda conta com uma rápida participação de Jeffrey Dean Morgan como James Connor, que, embora com pouquíssimo tempo em tela, acaba tendo um papel relevante para o desfecho da trama.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.