Crítica: A Última Invocação
Meu primeiro contato com os filmes de terror japonês, sem ser por episódios ocasionais de anime e tokusatsu, foi com a versão americana de “O Chamado”. Indo atrás do material original, descobri uma forma única de tratar o medo e o sobrenatural dessas produções, derivada de um folclore riquíssimo e de culturas variadas de como lidar com o sofrimento humano.
Em “A Última Invocação” (Kinjirareta Asobi / The Forbidden Play), a jornalista Hiroko Kurosawa (Kanna Hashimoto) tem sua vida transformada após uma série de eventos paranormais, precisando desvendar os segredos macabros da família de Naoto Ihara (Daiki Shigekoa), seu antigo amigo, se quiser sobreviver.
A sinopse original vai numa linha distinta, resumindo os cinco primeiros minutos de filme, gerando uma sensação de falso protagonismo em Naoto ou no seu filho Haruto (Minato Shogaki), ambos em luto pela perda da mãe, com o garoto enterrando o dedo dela no jardim. Porém, mais do que dar um ar sinistro inicial, apresentando levemente o toque sombrio que existe nessa família aparamente amorosa, há uma série de dicas que preparam grandes revelações no enredo.
Primeiramente, temos que pensar que fantasma, anjos, demônios e bruxaria, como aparece na nossa cabeça, são de diferentes vertentes ocidentais. Cada região da Ásia tem diversos conceitos além dos nossos em relação a esses elementos, além de figuras próprias sem qualquer correspondência por aqui. Isso tudo faz com que as repostas do longa sejam bem distintas do que imaginamos em uma estrutura Norte Americana ou Europeia de títulos de terror.
A partir daí, temos o processo, junto com a jornalista, de desbravar e entender, como se fosse um grande quebra cabeça, esse mundo oculto próprio, do qual estamos arranhando apenas a superfície. A caracterização – tanto dos seres sobrenaturais quanto de suas vítimas – é feita predominantemente com maquiagem e raros efeitos de computação gráfica, gerando um aspecto bem convincente e aterrorizante. Não é uma produção focada em sustos (jump scares), apesar de alguns existirem, mas na tensão crescente da morte se aproximando.
E a palavra morte talvez seja o principal componente da história, como o luto pode ser tratado das formas mais problemáticas. Como o excesso de apego, quando afeto vira sinônimo de posse, quando tentamos fugir da realidade de nossas perdas, o quanto isso pode corroer nossas mentes e machucar as pessoas ao nosso redor.
Parte dessa tensão é gerada por um silêncio intenso e proposital, onde apenas ruídos ambientes dominam, permitindo se destacar elementos sonoros da aproximação das forças sobrenaturais.
O diretor Hideo Nakata é o mesmo responsável pelos filmes japoneses da franquia “O Chamado” (Ringu), além de ter um vasta carreira em outras obras de terror, sendo bem nítido os mais de 30 anos experiência na área pela qualidade de execução de “A Última Invocação”.
A forma como a eletricidade é trabalhada recorda um pouco os conceitos de maldições afetando a tecnologia (justamente como ocorre em “Ringu”). Inclusive, mesmo o longa sendo bem fechado, um olhar mais atento vai perceber as sementes plantadas para uma posterior transformação em franquia dependendo do sucesso ( o que torço para acontecer).
Para quem gosta de terror sobrenatural, a obra é uma excelente opção trazida ao Brasil pela Sato Company.
por Luiz Cecanecchia – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Sato Company.