Crítica: Beau tem medo


Beau tem medo, muito medo. E o medo, sensação essa definida pela psicologia como o ‘estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, ao contrário, suscita essa consciência’, é a definição do novo filme dirigido e roteirizado por Ari Aster que transita entre os gêneros de comédia, drama e terror.

Longa completamente experimental, “Beau tem medo” (Beau is afraid) explora diversas concepções da psique humana, trabalhadas em um drama profundo e sensível, mas que ao mesmo tempo faz o espectador questionar-se de todas as fontes possíveis que a própria obra lhe entrega.

Na trama, Beau Wassermann (Joaquin Phoenix), um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade, enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica de volta para casa após o falecimento repentino de sua mãe, Mona (Patti LuPone).

Um enredo que parece simples, mas não para a mente de Ari Aster. Conhecido por seus filmes complexos, profundos e divisores de águas (como “Midsommar – O Mal não espera a Noite”), Aster entrega aqui um novo caminho para títulos de suspense e drama psicológico.

A história é, em primeiro momento, um completo absurdo surto-psicológico, onde o personagem principal parece ter um distúrbio indefinido, e não é possível diferenciar o que é real ou imaginário de sua mente. Mas, ao desenvolver-se, fica evidente que a ideia principal é fazer com que os espectadores – junto com Beau, aprendam que o medo é a narrativa central.

E nada funcionaria se toda a parte técnica não fosse tão bem conduzida. Joaquin Phoenix e Patti LuPone – esta última tendo uma participação menor quando comparado ao tamanho do filme (2 horas e 59 minutos) – não apenas entregam atuações dignas de nota, mas também fazem com que o longa-metragem ganhe um aspecto único e faça com que a narrativa, de alguma forma, tenha sentido metalinguístico. E junto a isto, a fotografia e sonoplastia fecham o arco artístico cinematográfico, entregando ao estudo A24 mais um filme de orgulho.

O único detalhe que chamaria de “ruim” é a duração. “Beau tem medo” é, definitivamente, bom para se ver no cinema e poderia valer a pena ser reassistido, pausado e destrinchado. Mas, por ter ser tão extenso, pode tornar essa experiência maçante em alguns momentos.

De qualquer modo, é um excelente filme, um ponto positivo para a carreira de Ari Aster e um novo espetáculo de atuação dos atores e atrizes. Vale e muito a pena ser assistido e refletido sobre a metalinguagem abordada e a experiência causada ao fim da exibição.

por Artur Francisco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.