“Desafio Change the Game” amplia o período de inscrições até o Dia Internacional da Mulher
Até as 23h59 do dia 08 de março, todas as garotas matriculadas a partir do 8º ano do ensino fundamental até o último ano do ensino médio no território nacional, podem se inscrever no Desafio Change The Game, um concurso de ideias de jogos para celular.
Criado pelo Google Play em 2017 com o objetivo de estimular a representatividade feminina no mundo dos jogos, o Brasil é o único país onde o programa é realizado além dos Estados Unidos. A edição brasileira atual é patrocinada pelo Google Play, e realizada pela consultoria de inovação social em educação Ideias de Futuro.
A participação no Desafio é bastante simples. As alunas preenchem um formulário de inscrição descrevendo a sua ideia de jogo, que deve estar relacionada com o tema “O que eu quero ver no futuro”. Não é necessário saber programação nem utilizar nenhum tipo de software. “O poder de transformação do Desafio vem da desconstrução que a garota faz de um elemento tecnológico tão presente no seu dia a dia como usuária, os games, e se coloca na posição de idealizadora e criadora desse elemento”, explica Jaciara Cruz, diretora geral da Ideias de Futuro.
Após algumas etapas de análise, o programa irá selecionar as 10 garotas finalistas, que receberão mentoria para estruturar suas ideias, e apresentá-las para uma banca de especialistas, em um evento online ao vivo no início de maio, o Demoday. As 5 melhores avaliadas ganharão um Notebook.
As inscrições estão abertas no site (www.ideiasdefuturo.com/changethegame). Além de trazer o passo a passo das inscrições, o site conta com um conteúdo robusto para auxiliar as alunas em uma imersão no universo gamer e até a estudar técnicas no desenvolvimento de jogos.
“A trilha didática dessa edição do Change the Game foi pensada para permitir diversas formas de contato da menina com o mundo dos games. Ela pode acessar o site e inscrever a sua ideia, apenas curtindo o exercício criativo de pensar um novo jogo e ter a chance de ganhar um notebook de alta performance. E, se quiser se aprofundar mais sobre o mundo dos games e as diversas possibilidades de carreira na área, pode navegar nos vídeos disponíveis no site, preparados exclusivamente para o programa. De uma forma ou de outra, esse exercício de criatividade e reflexão irá resultar no desenvolvimento de habilidades que ultrapassam a ideação de um jogo”, ressalta Jaciara.
Foi o que aconteceu com as alunas Mariane Correia (14 anos) e Thaina de Carvalho (17 anos), de São Paulo, capital. Tanto Mariane quanto Thaina inscreveram-se no Change The Game impulsionadas pelas afinidades com o universo de jogos eletrônicos e pela vontade de narrar desafios femininos do mundo real, transformando-os em jogos. As duas afirmam gostar de jogar e de escrever e perceberam no Change The Game uma oportunidade para exercitar a criação de roteiros que retratam as dificuldades vividas pelas mulheres, em formato de desafios.
Thaina trouxe para o seu game as dificuldades da sobrevivência de uma garota que vive em uma aldeia africana sob ataques. Seu objetivo é sobreviver, mantendo sua identidade étnica e sua integridade feminina. Ao longo do jogo, ela precisa superar os obstáculos para sair da condição de pobreza extrema e obter oportunidades para alcançar uma vida melhor.
Já Mariane criou um enredo voltado a mostrar a permanência das dificuldades de gênero, através dos séculos. Ela faz um paralelo entre as adversidades de uma princesa medieval e as adversidades das mulheres na atualidade. Além de não receber aprovação da sociedade para colocar seus planos em prática, passa por preconceitos, ao longo do roteiro, em tabernas e outros ambientes. E não conta com apoio para executar seu plano, o que dificulta ainda mais a conquista dos seus objetivos.
As duas estudantes têm uma rotina vinculada aos jogos eletrônicos, desde muito pequenas, e acreditam que irão seguir carreira nas áreas de roteiristas ou de cinema.
Por que é importante a discussão das mulheres no universo gamer?
No Brasil, as mulheres já representam 53% dos consumidores de jogos tecnológicos, segundo estudo realizado pelo Sioux Group. Apesar dessa supremacia, o 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais aponta que a mão-de-obra feminina no setor representa apenas 20% e a área com menor participação feminina é a de programação e gestão de projetos, com apenas 10,8%
Contribuir para criar uma política representativa e inclusiva para a mulher na indústria dos jogos tecnológicos sob os pontos de vista de usuária e de criadora de games é uma premissa do Change The Game. Segundo Ana Antar, co-fundadora e Diretora Geral da ERA Game Studio, empresa responsável pela criação do primeiro Live Game do mundo e organizadora nacional da Women Game Jam, é assustador que 53% das consumidoras de jogos do Brasil – apontadas na pesquisa – não tenham representatividade.
“Além desse levantamento retratar um cenário de dois anos atrás, período anterior ao crescimento do mercado de jogos provocado durante a pandemia por Covid-19, a própria quebra de padrão quanto ao gênero de consumo gamer é um estímulo retroalimentado por esse público”, afirma.
Ana ressalta que a falta de mulheres fazendo jogos para mulheres indica mais um aspecto tóxico da sociedade, que precisa ser revisto. “Temos que lembrar que a indústria gamer reproduz os padrões da sociedade. Tanto a mulher quanto os grupos étnicos não são reconhecidos como consumidores ou usuários de jogos tecnológicos, o que não é verdade. Ocorre que esse é mais um setor a reproduzir o padrão da representação e não o da representatividade. Assim como tantos outros, esse segmento levanta barreiras socioeconômicas e culturais importantes”, pontua.
“É necessário acesso à internet, um computador e/ou um celular para jogar e entender o universo da criação de jogos. Outro ponto importante refere-se à desmistificação do caminho. Para desenvolver um jogo não é necessário ter a formação de programador. Por fim, é importante que universidades públicas continuem a abrir graduação para esse tipo de profissão, algo bastante recente”, comenta.
Segundo Maia Mau, Head de Marketing de Google Play para a América Latina, é preciso fomentar o debate e criar soluções para a desigualdade de gênero no mercado de programação. “O time de Google Play entende que iniciativas como o Change the Game são importantes para equilibrar a balança, quando o assunto é a desigualdade de gênero no mercado de desenvolvimento de aplicativos e jogos. Precisamos reconhecer e valorizar a contribuição da mulher na evolução tecnológica, e criar mecanismos para ampliar sua participação neste setor”, finaliza.
da Redação CFNotícias