Crítica: Um Segredo em Paris
“Um Segredo em Paris” (Drôles d’oiseaux) segue a história de Mavie (Lolita Chammah), uma jovem que ocupa provisoriamente o sofá de uma amiga, em Paris. Cansada de aguentar os relacionamentos de sua amiga, Mavie decide se mudar para um apartamento, cujo dono, Georges (Jean Sorel), é proprietário de uma livraria, e acaba também trabalhando para ele.
Desta relação, os dois começaram a desenvolver um interesse mútuo, a diferença de idade – ele já por volta dos 70 e ela com cerca de 30 -, faz com que não se envolvam mais profundamente. Além disso, segredos do passado do protagonista começam a vir à tona.
Apesar do título, e do motivo dos segredos de Georges, o longa é uma comédia romântica. Porém chamá-lo assim é dar uma ênfase em humor que deveria ser mais presente no texto, ou pelo menos tentar ser mais enfático. O filme tem um problema tonal muito grande: às vezes parece que tenta abordar um método mais “europeu” ou artístico de cinema, e acaba que os momentos cômicos não parecem assim de fato. Talvez a diferença possa estar em públicos, visto que a produção é de origem francesa, e o humor brasileiro, e dos filmes americanos – mais populares por aqui -, é diferente, porém ainda assim não funciona.
E ainda dentro do padrão europeu, o filme é parado, centrando-se no cotidiano da vida de Mavie, e com isso é natural que as coisas possam ter pouca ação em relação a outros títulos. No entanto, somado a este fato, juntam-se as tramas pouco explorados. O segredo que é o principal ponto da trama de Georges passa mais como um pequeno detalhe. O romance desenvolvido entre os dois também é pouco desenvolvido e não chega em ponto nenhum.
Um ponto válido são os temas abordados, como o conflito de gerações, a solidão mesmo quando acompanhado, a mudança na sociedade e como isso se reflete em certos ativismos, os segredos e como esses nos moldam, e não fosse a trama mal desenvolvida dariam uma profundidade ao longa. Todos os assuntos poderiam levar a discussões muito interessantes mesmo dentro de comédias, porém como a trama não se aprofunda em nada, acabam sendo desperdiçados.
O filme, porém, faz um bom trabalho na parte visual. A fotografia é muito competente, e segue os humores dos personagens de uma maneira a ressaltar seus sentimentos de maneira cativante, particularmente nas tomadas que mais refletem a solidão de Mavie em Paris. A trilha sonora apesar de não ser fenomenal é boa, e encaixa bem na proposta.
Enfim, “Um Segredo de Paris” deve ter mais facilidade em interessar a alguns fãs mais ardorosos do cinema francês. Embora seu passo devagar, tramas que não levam a ponto algum e temas pouco desenvolvidos, deixem bem a desejar mesmo a esse público acostumado a um cinema mais incomum no Brasil.
por Ícaro Marques – especial para CFNotícias