Quando se pensa em filmes de ação envolvendo Liam Neeson, é impossível não se lembrar de “Busca Implacável”, o clássico que finalmente deu ao ator o reconhecimento merecido após anos de carreira.
Embora Neeson tenha se destacado em papéis memoráveis, como em “A Lista de Schindler” (1993), “Batman Begins” (2005) e “Silêncio” (2016), que mostram sua habilidade além do gênero de ação, ele continua sendo associado, de forma quase inevitável, a obras do tipo, especialmente aqueles mais simples e genéricos. Não raro, o ator parece se acomodar em papéis que, por vezes, não lhe oferecem o conforto artístico que seu talento poderia explorar.
No entanto, “Último Alvo” (Absolution) surge como uma lufada de ar fresco. Fugindo da fórmula do gênero de perseguição e máfia, se propõe a subverter clichês, oferecendo algo mais profundo e criativo. Nele, o ator interpreta Thug, um capanga em fim de carreira que, após ser diagnosticado com uma doença degenerativa, se vê no meio de uma transição de poder na máfia, com o chefe, Charlie (Ron Perlman), entregando o controle para seu filho, Kyle (Daniel Diemer).
A descoberta da doença traz à tona sua fragilidade, e a trama acompanha sua tentativa de provar que ainda é útil, ao mesmo tempo em que busca uma reconciliação com sua filha (Frankie Shaw), que ele abandonou anos antes. Para complicar ainda mais sua vida, Thug se envolve emocionalmente com uma mulher que conhece em um bar (Yolonda Ross), o que adiciona uma camada de conflito emocional à sua já tumultuada existência.
Ao contrário de outros que giram em torno de figuras duronas e impassíveis, “Último Alvo” tem uma proposta clara de explorar a redenção. A direção de Hans Petter Moland, cineasta norueguês, traz um olhar sutil e focado na fragilidade humana, distanciando-se das representações comuns da masculinidade exacerbada. A doença degenerativa de Thug não é apenas um elemento, mas uma ferramenta narrativa que evidencia a profundidade da atuação de Liam Neeson, conduzindo a uma jornada de autoconhecimento e arrependimento.
Embora o longa, com mais de duas horas de duração, se arraste em certos momentos e recorra a alguns artifícios narrativos fracos para manter o ritmo, sua força reside nas cenas de introspecção e no dilema existencial do protagonista. A solidão e a busca pela redenção se tornam os motores em um desenvolvimento que, apesar de seus tropeços, se revela eficaz.
“Último Alvo” é, sem dúvida, sólido. Talvez peque por tentar se distanciar excessivamente dos outros filmes do gênero, mas o que realmente o torna interessante é o modo como desenvolve sua trama, entregando uma história envolvente e emocionalmente rica.
As atuações, especialmente a de Neeson, são de destaque, e sua capacidade de transitar entre a melancolia e a felicidade em questão de cenas é um dos maiores trunfos da obra. Ao final, “Último Alvo” se revela uma obra introspectiva que, apesar de seus defeitos, merece reconhecimento por tentar algo novo em um gênero saturado.
por Artur Francisco – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.