Crítica: Twisters


Dizem que a moda de cada década tem um período cíclico. Se tal afirmação é verdade, então, estamos vivendo o retorno aos anos 1990, e isso pode ser visto nas vestimentas, nas animações requentadas do período que retornaram. E, é claro, tal fenômeno também chegou às salas de cinema.

“Twister” foi lançado em 1996 e mesmo fazendo um sucesso considerável e se tornando um ícone da cultura pop no período, nunca teve uma continuação oficial. Aparentemente, o momento perfeito para esse projeto avançar foi em meio às “sequências-legados” que Hollywood vem explorando nos últimos anos, algumas com resultados duvidosos, e outras com um sucesso inegável – como é o caso de “Top Gun Maverick”.

Tal dualidade, desde o inicio da divulgação de “Twisters” (Twisters) levou à questão: Será que esse revival da franquia seria um bom ou apenas mais um caça níquel? Pois, para os fãs de filmes de desastre, podemos dizer, com alegria, que o longa se estabelece como algo que não só faz justiça ao original, como também melhora muitos pontos deficitários do roteiro de seu antecessor.

Na trama, acompanhamos Kate (Daisy Edgar-Jones), uma ex-caçadora de tornados que acaba voltando à atividade quando seu antigo companheiro Javi (Anthony Ramos) apresenta uma nova forma de triangular os ventos, a fim de obter dados mais precisos sobre os fenômenos.

Porém, no meio do caminho há Tyler Owens (Glen Powell), um aventureiro que persegue tornados por diversão e posta seus feitos nas redes sociais. Mesmo com interesses conflitantes, os antagônicos caçadores se veem em uma arriscada situação,  conforme a frequência e intensidade dos ventos na região de Oklahoma aumentam gradativamente.

Nos últimos anos, Glen Powell tem se destacado na indústria cinematográfica, estrelando películas com qualidade acima da média e entregando atuações bem condizentes com seus papéis e em “Twisters” não é diferente. Como o aventureiro Owens, o ator entrega um personagem canastrão e caricato, que aos poucos apresenta camadas e conquista o público.

Daisy Edgar-Jones também faz bonito, extraindo em sua atuação, toda a dramaticidade que sua personagem vive após uma tragédia apresentada no primeiro ato. E mesmo o drama em si não sendo o foco do roteiro de Mark L. Smith, esse aspecto define a personagem e a atriz consegue tornar tal elemento importante, sem tirar o brilho da diversão e aventura que a trama se propõe a entregar.

Ainda que Lee Isaac Chung não tivesse experiência prévia dirigindo obras de ação, o diretor se sai muito bem na tarefa e oferece cenas alucinantes. Mesmo com a poeira dos tornados e os destroços obstruindo a visibilidade dos espectadores, o diretor sabe usar o fenômeno natural a seu favor, obtendo sequências dramáticas e angustiantes.

Um dos destaques é a forma monstruosa como os tornados são retratados. Quando o tufão se inicia, a sonoplastia transforma o barulho dos ventos em uma espécie de urro gutural. Isso dá vida ao tornando, transformando-o em um monstro de fato, mas tudo é realizado de forma sutil a ponto de não se tornar fantasioso.

Mesmo que o filme explore o drama de pessoas que sobreviveram a desastres naturais, o grande foco é a diversão, com cenas de ação muito bem realizadas e um roteiro com leves toques de comédia romântica no estilo “Os opostos de atraem” para temperar a narrativa.

“Twisters” tem tudo que seu antecessor noventista tinha, porém, adaptado ao ano de 2024 com muito cuidado e respeito à produção original. E ao referenciá-la somente nas sutilezas, prova que não precisa se ancorar em um sucesso passado para mostrar a que veio.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.