Trata-se de uma história nostálgica, relembrando passagens da vida familiar de Alain Ughetto, diretor e co-roteirista (que também dá sua voz ao relato e às imagens que o representam). Principalmente, se ocupará de seus antepassados, situando a trama na Itália, a partir do início do século XX, em locais rurais, onde a pobreza é extrema.
“Proibido a Cães e Italianos” (Interdit aux Chiens et aux Italiens) acompanhará o trajeto de Luigi e Cesira, seus filhos e netos – entre os quais o próprio Alain – e demais integrantes da família.
O relato se centrará na luta desse casal, que deu início à família, mostrando-o em trabalhos com condições adversas em muitos sentidos, inúmeros sofrimentos, nascimentos e mortes (pelo geral de jovens), passagens por guerras, absurdas e perigosas persecuções dos fascistas e, sobretudo, presença do frio da neve, falta de comida, medicamentos etc.
Até o ponto de tudo tornar-se insuportável. Inclusive, a seguir, virão os acontecimentos deles na mudança e reinserção na França, com conquistas e, também, novos padecimentos. Elementos muitas vezes negativos (como o cartaz preconceituoso que dará lugar ao título desta realização), que demandam uma forte resiliência que, de alguma maneira, se farão presentes ainda nas gerações posteriores – como dito, até o próprio Alain Ughetto.
Há comentários ou reflexões que se podem citar, como: “Uma pessoa não é de um país. Uma pessoa é da sua infância”. Porém, a psicologia aponta certa sensação de perda de sua terra original, de desarraigo, nos estrangeiros. Também está a rebuscada explicação que o pai dá aos filhos que vêm à anteriormente mencionada proibição: “(Foi colocado) porque tem medo que os cães mordam os italianos”. Este tipo de situações e certo tom geral fazem lembrar “A Vida é Bela”.
Chama a atenção, especialmente, por ser um filme animado feito no chamado stop-motion ou animação quadro a quadro. Técnica que consiste em aparentar o movimento de objetos estáticos por meio de uma série de imagens fixas sucessivas.
Para isso se deve movimentar manualmente o objeto, registrar cada um desses movimentos e, depois, criar uma sequência com todas as fotos. Embora utilizado já por Mèliés desde os primeiros tempos do cinema (1896), não é muito usado no cinema comercial dos últimos anos. Por isso, justamente atrai a atenção do espectador, não habituado a tal tipo de imagens.
O percurso vai trazer momentos positivos, podendo produzir certa empatia mas, também, outras passagens muito tristes. Algumas, até revoltantes, pela ação desumana de indivíduos que se aproveitam da fraqueza na situação dos Ughetto. Por outra parte, se intercalam gestos amorosos com outros, pouco convincentes.
Contudo, para boa parte dos espectadores, muito provavelmente vai prevalecer uma sensação por um lado positiva, e por outro, estranha. Isto não tanto pelo relato, mas sim pela técnica utilizada, acompanhada pela música (criada pelo experiente Nicola Piovani), que sublinha aquela condição saudosa de “Proibido a Cães e Italianos”, como definimos no início deste texto.
por Tomás Allen – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Gal Cultural.