Crítica: Professor


“Professor” (Teacher) é um relato sobre partes da vida de James Lewis, um professor de ensino médio em um colégio dos Estados Unidos. Aliás, são apresentadas duas partes de sua vida: o passado, quando ele mesmo era estudante, e a atualidade, como professor. Mais interessante ainda resulta o fato de um de seus alunos, Preston Walsh, ser similar a ele, no sentido de também sofrer bullying por parte de outros adolescentes de sua turma.

Assim, o filme vai-se construindo como uma figura geométrica, cheia de simetrias. Porque além da perseguição que sofre o menino James na escola, ele sofre com as desavenças no matrimônio de seus pais. Justamente, seu pai é um homem alcoólatra, que agride a esposa, o que perturba o menino. E a mãe, em alguns momentos, é injusta, mas, em outras oportunidades, é carinhosa com o filho. Os antecedentes vão reaparecer na vida já adulta de James, que gosta muito de beber e tem impulsos agressivos. Além disso, seus vínculos afetivos apresentam falhas e conflitos.

O filme vai formando um contexto intenso para a vida do professor, que procura ser amável, compreensivo, bom docente. Porém, o colégio vai trazer inúmeros desafios, tensões, situações de muita complexidade e alta carga emocional. Seu chefe imediato é bastante competente, mas o diretor não parece sê-lo tão assim. E, para agravar a situação, James precisa ser efetivado no cargo.

O assunto central tem a ver com uma dupla de alunos, principalmente um – Tim – que tem uma personalidade extremamente conflitiva e violenta, em grau crescente. A família desse jovem é outro elemento a ser considerado: muito rica, impõe que esse filho se destaque nas atividades escolares, principalmente no beisebol. A figura paterna, Bernard Cooper, é fundamental.

Aos poucos, a maldade de Tim vai-se manifestando e as brigas se sucedem, mas os piores traços de sua personalidade se evidenciam contra Preston e sua namorada, a latina Daniela. As agressões vão aumentando de grau. E a figura do pai de Tim vai crescendo em importância dentro do filme, apresentando, primeiro, um comportamento sutil e logo direto. A partir da sua metade (aproximadamente aos 45 minutos), “Professor” deixa de ser só um filme dramático. Assume, também, a condição do gênero policial.

A atuação do experiente Kevin Pollak resulta excelente. Também edição (R.J. Daniel Hanna) e fotografia (John Klein) atingem um nível muito bom. Os demais atores resultam competentes: David Dastmalchian (James adulto), Edward Jackson (Tim Cooper-Curtis) e Esme Pérez (Daniela López), Helen Joo Lee (Arabella), Cedric Young, ao igual que os outros coadjuvantes.

Adam Dick é diretor e roteirista. Sobre este último item, sobressai não apenas no armado – conjuntamente com o editor – mas também nos diálogos, reflexivos, sobre a atual condição humana. Por exemplo, diz o protagonista: “Este mundo é dos outros (os maus). Nós apenas estamos alugando”; “Os bons não herdam nada. Apenas falsas promessas.”; “Esse cara está equivocado, é ruim. Mas a natureza premia isso”; “Você pode ser educado, inteligente, mas isso não significa nada.” A mulher que está falando com ele, Arabella, discorda, dá outros argumentos e tem uma atitude diferente.

Uma última palavra sobre momentos especiais no filme: toda a atuação de Kevin Pollak serve para que o espectador, nas entrelinhas, entenda e até especule sobre esse personagem – o que é, e o que pode fazer. Outra grande sacada é um passeio da câmera na casa de Tim, onde aparecem dois objetos, primeiro uma figura, que representa o jogo de beisebol, e, na sequência, uma arma. É uma tomada breve, porém extremamente significativa. Ambos elementos traçam um perfil psicológico. A câmera define muito, de modo conciso, preciso, intrigante.

Por momentos, esta realização faz lembrar outros títulos sobre o mundo escolar, como “Ao Mestre com Carinho” e “Perfume de Mulher” (de Martin Brest, em 1992, com o inesquecível Philip Seymour Hoffman como o aluno, filho de um poderoso senador). Porém, “Professor”, feito por profissionais em geral não conhecidos nos primeiros planos da atual fama internacional, resulta ser um filme que surpreende muito gratamente.

por Tomás Allen – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.