Crítica: Prisão nos Andes


Na trama de “Prisão nos Andes”  (Prison in the Andes / Penal Cordillera), a mordomia de ex-militares da ditadura de Pinochet é uma espécie de punição que tais carrascos receberam por torturar e matar inimigos da democracia. Guardas prisionais acumulam as funções de garçom, camareiro, pajem e/ou escravos.

A prepotência e o autoritarismo não os fazem entender que são prisioneiros, agem mais como se estivessem desfrutando uma antecipada aposentadoria. Curiosamente, suas regalias são desconhecidas da população, até que um jornalista consegue tocar na ferida histórica.

Em uma encalorada entrevista com um dos algozes, solta o verbo e fala sobre tudo o que fizeram (as torturas, as prisões, perseguições, etc) em nome da lei e da ordem (só faltou dizer que era em nome da família ou de Deus).

A reportagem gera um alvoroço nacional, o que produz uma grande pressão aos atuais governantes, além da revolta de seus mal-acostumados colegas prisioneiros, pois, não demora para sentirem a perda de certos privilégios. É quando chega a notícia mais temida: Serão transferidos para presídios convencionais.

Pode-se dizer que é “Prisão nos Andes” é um filme sem protagonistas, ou talvez, composto só por coadjuvantes. O assunto central é o discorrido, claro e sem embaraços. Revoltante por imaginarmos ser uma constante espalhada pelas entranhas latino-americanas.

Histórias paralelas, como um possível relacionamento entre dois guardas prisionais, mas não têm força e ficam soltam na narrativa principal. Há também um crime desnecessário, na busca por outros contextos. E o destaque, pouco intenso, de um personagem que talvez seja o mocinho prisional – ou um guarda capacho que ganha uma folga inesperada, para uma missão descabida. Enfim, nada que se desenvolva com consistência, à sombra do drama central.

Se era o propósito do filme, causar nojo e indignação frente a esses lixos humanos, em forma de ditadores, torturadores e assassinos, e esses sistemas canalhas e corruptos, o objetivo foi atingido. Desse modo, podemos até aceitar os subterfúgios paralelos como um descanso para tanta indignação.

“Prisão nos Andes” tem roteiro e direção, bem intencionadas de Felipe Carmona, e um elenco suficiente com Andrew Bargsted, Hugo Medina, Bastián Bodenhöfer, Mauricio Pešutić, Alejandro Trejo, Óscar Hernández, Daniel Alcaíno.

 

por Carlos Marroco – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Retrato Filmes.