Crítica: Pecadores

Estreando com impressionantes 100% de aprovação em um dos principais sites agregadores de críticas de cinema e televisão do mundo, “Pecadores” (Sinners) confirma que essa nota não é exagero: trata-se de um filme cuja qualidade é impecável e que brilha em tudo a que se propõe.

Sob a direção afiada de Ryan Coogler, conhecido por seus trabalhos marcantes em “Pantera Negra” e “Creed – Nascido para Lutar”, o longa é uma obra multifacetada que entrega com maestria tanto o drama denso e emocional, quanto momentos de terror instigante e uma trilha musical poderosa e significativa.

Coogler demonstra mais uma vez seu talento em criar narrativas que dialogam com a realidade, especialmente no que diz respeito à identidade étnica e à ancestralidade negra. “Pecadores” mergulha em temas complexos como racismo, religião, raízes culturais e arte.

Tudo isso envolto em uma atmosfera tensa e carregada de terror psicológico e simbólico, com ecos que lembram “Um Drink no Inferno”, de Quentin Tarantino, porém aqui, muito melhor realizado, com uma camada dramática mais profunda e uma crítica social mais consistente.

O elenco está afiadíssimo, com atuações irretocáveis. O grande destaque vai para Michael B. Jordan, com uma performance memorável ao interpretar dois personagens distintos, mostrando alcance, sutileza e intensidade. Sua entrega eleva ainda mais a carga emocional e temática da produção, servindo como espinha dorsal para os múltiplos dilemas que apresenta.

Outro ponto de inovação está em sua representação respeitosa e precisa das religiões de matriz africana, algo ainda raríssimo no cinema mainstream. Coogler não apenas evita os estereótipos habituais como os desmonta, oferecendo uma visão rica e reverente das tradições afro-diaspóricas.

Soma-se a isso a inclusão significativa de um casal de personagens asiáticos, cuja presença não é meramente ilustrativa, mas sim fundamental na narrativa, representando a união e a solidariedade entre minorias sociais negras e amarelas em resistência a um sistema opressor.

Em meio a seus elementos de horror e religiosidade, o filme nunca perde o compasso com a arte e a música como formas de expressão e resistência. O uso da trilha sonora é tão bem pensado quanto os enquadramentos carregados de simbolismo, criando uma experiência estética e emocional impactante.

“Pecadores” é uma obra rica em camadas temáticas. Ao mesmo tempo em que assusta e emociona, provoca reflexão, dialoga com o presente e reafirma o poder do cinema como ferramenta de transformação social e afirmação cultural. Ryan Coogler faz desta talvez sua obra mais ousada, ambiciosa e artisticamente completa até o momento.

por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.