Crítica: Onde quer que você esteja


É complicado pensar no desaparecimento das pessoas que amamos, não saber o que aconteceu, ou qual é o seu paradeiro, é uma angústia imensurável. Todos os dias, o número de desaparecidos aumenta, e infelizmente são pouquíssimas as famílias que conseguem notícias positivas.

“Onde quer que você esteja”, filme dirigido por Bel Bechara e Sandro Serpa, conta as histórias de alguns personagens que recorrem a um programa de rádio para mandar mensagens aos seus familiares desaparecidos. Entre tantos casos, alguns acabam se entrelaçando e unindo forças para que novas histórias passem por transformações.

Apesar de ser um drama, o longa investe em pequenas doses de comédia, fazendo com que haja um alívio na carga emocional depositada por algumas histórias. Além disso, é interessante observar a personalidade de cada personagem e como se comportam diante daquela situação: muitos estão ali para suplicar o retorno de alguém, outros, no entanto, buscam preencher os espaços vazios que têm internamente. Esse equilíbrio faz com que o clima seja um pouco mais ameno do que o esperado.

É importante ressaltar que a produção atribuiu muito bem detalhes minimalistas na construção do longa, que fizeram uma diferença muito grande – até mesmo na forma como as pessoas entenderão a mensagem transmitida. O diálogo é curto, as cores utilizadas nos figurinos e em imagens da cidade são pálidas, destacando um tom de pesar nas situações. Além disso, são poucas as cenas que fazem uso de música, em grande parte do filme o silêncio simboliza o sentimento perante cada situação.

Outro ponto positivo, é que a obra não busca se aprofundar na vida de seus personagens, ela apenas foca no que acontece após o sumiço de alguém. Por mais doloroso que seja, a rotina daqueles que estão à procura de alguma informação passa por adaptações severas, os familiares são obrigados a conviver com a incerteza de um reencontro e com a dúvida de tentar descobrir se o desaparecimento foi ou não intencional.

O longa é bem marcante e em diversos momentos consegue agregar perspectivas diferentes sobre o mesmo assunto, o que o torna riquíssimo em sensibilidade, e faz com que as pessoas reflitam sobre situações que parecem rotineiras, mas que muitas vezes estão mais próximas do que imaginamos.

por Victória Profirio – especial para CFNotícias