Crítica: O Mau Exemplo de Cameron Post
Uma forma triste, cruel, mas realmente aconteceu. Baseado na obra literária homônima chega aos cinemas “O Mau Exemplo de Cameron Post” (The Miseducation of Cameron Post), com adaptação e direção de Desiree Akhavan, o longa aborda a questão da homossexualidade na adolescência e, como isso é enfrentado por seus familiares.
Na trama central temos a jovem Cameron (Chloë Grace Moretz) que logo nas cenas iniciais mostra o seu desconforto com o vestido e a maquiagem que sua tia coloca nela para o baile de formatura. Ao final da festa, Cameron e sua amiga Coley (Quin Shephard) escampam e vão fumar um baseado (escondido é lógico), porém o clima esquenta, as duas acabam protagonizando momentos quentes e são flagradas pelo namorado da protagonista.
Ao saber da atração sexual de Cameron, sua tia decide mandá-la para um acampamento de conversão, com o intuito de “curar” a jovem. O tratamento tem um método muito agressivo emocionalmente: a terapeuta e diretora do acampamento procura através do cristianismo a regeneração dos adolescentes, fazendo com que se sintam culpados.
O drama é muito intenso, pois a todo o momento coloca os sentimentos humanos em confronto com a fé – mas até que ponto devemos nos privar em nome da fé?. Os jovens estavam em uma fase de transição de descobertas, nem eles mesmos sabiam ao certo o que queriam, e corrigir orientar é bacana, agora repreender e obrigá-los a ser o que não querem, é uma desumanidade tremenda. O incrível é que todos internos do acampamento encontram entre si a compreensão que não tiveram dos seus familiares, muito menos da terapeuta.
O filme não tem muito diálogo, as cenas são compostas mais por gestos e ações, e isso ficou um pouco confuso, pois nem todos os atores conseguiam transmitir uma mensagem clara através das expressões faciais. É o caso da protagonista Chloë Grace Moretz, que apesar de ter apenas 21 anos, já acumula mais de 50 trabalhos em seu currículo como: “A Quinta Onda” e “Se eu ficar”, contudo esse é o primeiro título com temática mais adulta e com maior carga emocional a ser passada ao público.
O ponto alto de “O Mau Exemplo de Cameron Post” é a composição da obra, interligando os sonhos, memórias e traumas da personagem, causando incertezas que eram estimuladas também pela terapeuta. Apesar de passar 25 anos (a narrativa se passa na década de 1990), todos os problemas enfrentados por esses jovens são muito atuais. Antes da auto aceitação vêm a negação, a dúvida, o medo e posteriormente a coragem e o orgulho de ser o que é.
por Leandro Conceição – especial para CFNotícias