Crítica: O Grande Mauricinho


Que momento promissor para o gênero animação (em especial, as que têm felinos como protagonistas). Depois de estrear no Festival de Sundance, “O Grande Mauricinho” (The Amazing Maurice) chega às telas dos cinemas brasileiros como a mais grata surpresa dos últimos tempos no quesito de adaptações literárias infantis.

Dirigido por Toby Genkel, o longa consegue a façanha de ser uma ótima opção para todos os públicos – mérito também do roteiro de Terry Rossio (já bem ambientado na área, graças a trabalhos como o divisor de águas do gênero, “Shrek”).

A carismática bookaholic Marina Grima (voz de Emilia Clarke no original e Sophia Valverde na versão brasileira) é a narradora e uma das personagens principais da história passada na Europa da Idade Média, que conta as aventuras do gato falante Maurice (voz de Hugh Laurie / Marcelo Adnet) e seu amigo humano Kinho (Himesh Patel).

O garoto – uma simpática e bem menos agressiva – releitura do Flautista de Hamelin se une ao felino para ludibriar os moradores de pequenas cidades. Com a ajuda de um expressivo grupo de ratos (conhecido como “Clã”), eles simulam invasões que só cessarão mediante o pagamento dos serviços de Kinho, que, através de sua música, conduzirá os roedores para longe.

Até que o grupo chega à cidade de Panqueca Estragada e se vê diante de uma incógnita: não há ratos no local – teoricamente exterminados por uma pouco amistosa dupla de caçadores com ares – mas toda a comida está desaparecendo sem explicação.

Quando os amigos se juntam à esperta Marina, a narrativa ganha seu ritmo definitivo, com sequências de ação e mistério, regadas à emoção e descobertas. O improvável grupo unirá forças para enfrentar o temível vilão conhecido como Chefão (David Thewlis), cuja interessante criação culmina em uma figura surpreendente e intimidadora – como todo vilão deve ser.

A animação que tem tudo que é necessário para fazer uma obra inesquecível e que conquista com facilidade, desde os primeiros minutos, é baseada no livro de 2001, “O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados” (The Amazing Maurice and His Educated Rodents), que faz parte da série “Discworld”, do aclamado escritor inglês Terry Prachett, falecido em 2015.

E, justamente por ter uma obra literária como ponto de partida, a opção por sempre lembrar o espectador da importância da leitura – seja através da minuciosa narração de Marina – com direito a várias passagens de quebra da quarta parede -, ou por intercalar a saga de Mauricinho a do Sr. Coelhito (esta, apresentada com ilustrações animadas que remetem a páginas de um livro infantil) é um de seus pontos altos.

Assim como Marina, os demais personagens são encantadores. Com sua lábia infalível e o estilo que apenas os felinos possuem, Mauricinho marca território como um grande protagonista. Inicialmente tímido, Kinho ganha destaque no decorrer da trama se mostra fundamental para seu andamento.

Impossível não se apaixonar pelo Clã liderado pelo sábio Perigoso Feijão (David Tennant), e que tem entre seus membros a doce Pêssegos (Gemma Artenton), o corajoso Bronzeado (Ariyon Bakare) e o divertido Sardinha (Joe Sugg).

Se a história parece simples (e de fato, é), ela também carrega ensinamentos que devemos levar por toda a vida, como o valor de se ter amigos leais, a sabedoria de seguir pelo caminho do bem e, principalmente, a empatia para com o próximo (assunto tratado de maneira bela e delicada, já nos momentos finais da produção).

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.