Crítica: O Fantasma Vermelho


A Segunda Guerra Mundial foi a mais sangrenta guerra vista pelo homem: mais de 85 milhões de pessoas foram mortas no conflito. Desse considerável número as maiores porções foram no Sudeste Asiático e China: mais de 20 milhões de mortos incluem uma quantidade significativa de civis que sofreram crimes de guerra e contra a humanidade nas mãos dos invasores japoneses. Ainda pior foi no Leste Europeu e na União Soviética, onde ocorreram 27 milhões de baixas, que também incluíam os horrendos atos de extermínio alemães da época.

Este alto número de baixas no front soviético se deu particularmente pelo despreparo de Stalin, que, mesmo alertado, pouco se importou em considerar a ameaça alemã. Desta forma quando a invasão alemã ocorreu, a União Soviética foi pega de surpresa, e forçada a uma sangrenta guerra defensiva. Desta forma o papel dos franco atiradores neste lado da Europa foi fundamental para conter o avanço da infantaria, fosse nos espaços urbanos bem como nos campos abertos, gerando grandes nomes lendários como Lyudmila Pavlichenko e Vasily Zaitsev.

É neste contexto que “O Fantasma Vermelho” (Krasnyy prizrak aka The Red Ghost) se passa. Conta a história de um sniper anônimo que aterroriza as tropas alemãs nas proximidades da sitiada Vyazma, que por sua vez caçavam fugitivos do terrível cerco. Um desses grupos, no entanto, tem o azar de se ver em meio ao conflito entre o “Fantasma” e um destacamento do exército nazista enviado para eliminá-lo. Uma trama simples e direta, mas que ao evitar grandes rodeios, cabe muito bem à ideia do filme.

Apesar de a descrição acima parecer de um filme de guerra comum, “O Fantasma Vermelho” está mais próximo de um faroeste: em primeiro lugar, a música cheia de violões, em vários momentos inspirada pela de Enio Morricone; o conflito também não se dá diretamente entre dois exércitos, mas entre pequenos grupos – o diminuto destacamento nazista, e os poucos fugitivos soviéticos; por fim a paisagem remota, que apenas troca o deserto por uma tundra nevada.

No aspecto visual, mesmo sendo focado na ação, o longa se destaca. Enquanto na maioria das produções do gênero a fotografia apenas serve para o mínimo de narrativa visual, ou por ser um aspecto fundamental do cinema, sem grandes explorações, “O Fantasma Vermelho” se importa em criar uma atmosfera utilizando a paisagem gélida e devastada, além de se dedicar a criar cenas bonitas mesmo que em meio à violência. Aliás, graças a essa dedicação, é um dos poucos títulos que se importam em destacar na fotografia o quanto a neve pode ser brilhante ao refletir o Sol.

Alguns dos personagens não têm função nenhuma na narrativa e poderiam ser descartados sem fazer nenhuma falta, em particular alguns dos antagonistas. Apesar da trama direta, algumas cenas são desnecessariamente longas, e o mesmo ocorre com certos elementos cômicos, que começam funcionando, mas a insistência em se prolongar acaba por eliminar sua efetividade.

Ainda assim, “O Fantasma Vermelho” (disponível na plataforma de streaming Cinema Virtual) é interessante e deve atrair os fãs de filmes de ação, bem como de obras de guerra.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.