Crítica: O Exorcismo
Russell Crowe já havia ganhado destaque do gênero terror com o “O Exorcista do Papa”, no qual o ator interpreta um padre exorcista em uma história mais voltada para a ação sobrenatural.
Por conta dessa empreitada, foi uma surpresa ver o ator envolvido novamente com um longa que aborda o tema possessão demoníaca, tanto que gerou confusão em parte do público acreditando que “O Exorcismo” (The Exorcism) seria uma continuação de “O Exorcista do Papa”. Porém, este pouco tem em comum com o outro, além do protagonista, seja por sua abordagem ou sua qualidade.
Em “O Exorcismo”, Russell Crowe interpreta Tony, um ator que em outrora já desfrutou de relativo sucesso. Contudo, após uma fase de exageros com drogas e álcool – motivada pela doença e falecimento de sua esposa – ele busca retomar sua carreira ao substituir um ator que sofreu um grave acidente no set de um filme de terror.
Tony enxerga sua participação como a chance de colocar a vida nos trilhos e se reaproximar de sua filha, Lee (Ryan Sympkins). Mas a pressão no set e o tenebroso tema que a produção aborda começam a afetar seu psicológico. Resta saber se tal reação é uma recaída aos seus vícios ou se algo sobrenatural de fato se apossou dele.
Quanto às questões técnicas, não há nada que desagrade, existem bons enquadramentos, uma boa fotografia, e uma cenografia que, apesar de modesta, consegue cumprir bem o que o filme propõe. Os pontos positivos param por aí.
O roteiro de Joshua John Miller (também diretor) e M. A. Fortin tenta criar uma trama metalinguística abordando acontecimentos estranhos que supostamente aconteceram em gravações de obras de horror. Só que essa proposta se perde em meio a tantos subplots que o longa propõe, sem desenvolver nenhum.
Entre eles, o drama como pai e viúvo do protagonista, o romance da filha com uma atriz do elenco do filme, as questões sobrenaturais. Se já não fossem plots suficientes, ainda é inserido um trauma no passado de Tony que não leva a lugar nenhum e tem uma utilização pífia no desfecho da história.
O ritmo da narrativa também não ajuda, sendo quem em muitos momentos, desacelera, para tentar criar empatia entre o público e as questões de Tony. Todavia, ao tentar acelerar, quebra a fluidez ao inserir flashbacks aleatórios que não se concretizam em explicações coerentes, deixando buracos que atrapalham na imersão.
Tais questões ainda poderiam ser relevadas, se a construção da atmosfera não fosse tão previsível, se valendo de clichês amplamente repetidos pelo cinema de horror atual.
Em uma safra tão boa de títulos de terror, é triste ver um talento em atuação como Russell Crowe ser desperdiçado em uma produção genérica como “O Exorcismo”, um longa que tem boas ideias, mas não consegue desenvolvê-las adequadamente.
por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.