“Mickey 17” (Mickey 17) não apenas atende às altas expectativas criadas por seu talentoso elenco e diretor, mas as supera com uma narrativa envolvente, uma montagem criativa e uma profundidade temática rara no gênero da ficção científica. Dirigido por Bong Joon-ho, conhecido por sua habilidade em equilibrar drama e comédia, o filme se consolida como uma obra magistral que consegue ser, ao mesmo tempo, cômica, crítica e emocionalmente impactante.
Na trama, acompanhamos Mickey Barnes, interpretado brilhantemente por Robert Pattinson, que em um futuro próximo se vê endividado e perseguido por agiotas, e para fugir de sua sina, decide se candidatar a vaga de “Descartável” em uma expedição de colonização.
Seu trabalho consiste em explorar possíveis planetas habitáveis e caso morra no processo, é feito um upload de sua mente e realocada em um novo corpo clonado. Porém por um erro de comunicação, um novo clone de Mickey é feito antes do anterior ser destruído, tornando Mickey 17 e 18 múltiplos, o que viola as diretrizes da nave e pode causar a destruição de ambos.
A atuação de Robert Pattinson é impressionante, conseguindo transmitir nuances profundas de seu personagem apenas com suas expressões faciais e corporais. Ele dá vida a Mickey 17 e Mickey 18 com uma dualidade fascinante, alternando entre vulnerabilidade, revolta e humor de forma natural e convincente.
O público consegue distinguir ambos os personagens somente pela interpretação do ator, o que é um feito muito raro, vislumbrado somente em obras específicas como “Fragmentado”, protagonizado de forma incrível por James Mcavoy.
A montagem do longa é outro ponto alto. Criativa e impecável, ela alterna entre cenas de ação intensas, momentos introspectivos e sequências cômicas, sem jamais perder o ritmo ou a coerência narrativa. A edição contribui para a sensação de claustrofobia e desespero que permeia a colônia Nilfheim, ao mesmo tempo em que permite que o humor e a crítica social coexistam harmoniosamente.
Bong Joon-ho, já aclamado por seu trabalho anterior, prova mais uma vez seu talento inegável. Em “Mickey 17”, ele eleva a ficção científica a um novo patamar, misturando elementos de comédia e drama com uma maestria raramente vista.
Sua direção consegue equilibrar a crítica social afiada com momentos de leveza, sem jamais subestimar a inteligência do espectador. A ficção científica serve como pano de fundo para uma história que reflete os tempos atuais, questionando sistemas opressores, relações trabalhistas e a luta pela individualidade em um mundo que trata as pessoas como descartáveis.
O elenco, composto por nomes de peso como Naomi Ackie, Steven Yeun, Toni Collette e Holliday Grainger, está simplesmente impecável. Cada ator entrega performances memoráveis, mas é Mark Ruffalo quem rouba a cena como o vilão da trama. Seu personagem é uma representação perfeita dos totalitaristas contemporâneos: bufão, perigoso e absurdamente real. Ele consegue transmitir a ambiguidade e a crueldade de seu papel com uma intensidade que cativa e perturba ao mesmo tempo.
Apesar das expectativas astronômicas criadas pelo talento envolvido no projeto, “Mickey 17” não decepciona. Pelo contrário, o filme consegue superá-las com uma construção narrativa sólida, personagens complexos e uma mensagem poderosa. É uma obra que diverte, provoca e emociona, deixando uma marca duradoura no espectador.
Em resumo, “Mickey 17” é um filme que merece ser celebrado por sua ousadia, sua criatividade e sua execução impecável. Uma obra que confirma Bong Joon-ho como um dos diretores mais talentosos da atualidade e Robert Pattinson como um dos atores mais versáteis de sua geração.
por Marcel Melinsk – especial para CFNotícias
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.