Crítica: Meu Vizinho Adolf


Perante uma coprodução colombiana/israelense/polonesa, como nesta ocasião, podemos ter algumas reflexões. Por um lado, quando estamos diante de um caso assim, o que deveria prevalecer é o valor próprio dela, seja estético, de conteúdo etc. Passa a um segundo plano qual sua origem. Também pouco deve importar se o país ou países têm pouca produção ou são famosos cinematograficamente. Nem qual colocou mais capital.

Por outra parte, tratando-se de um produto filmado principalmente na Colômbia, é interessante saber como está a produção cinematográfica nesse país – e, sendo mais amplos, na América Latina. Ora, ainda nas grandes capitais do Brasil, nas salas só se tem a oportunidade de assistir ao cinema argentino, algumas vezes mexicano ou chileno, e só. Uma exceção, e boa oportunidade de ver a produção dos outros países, é na Mostra de Cinema de São Paulo, que oferece títulos do nosso continente – e outras cinematografias distantes. Portanto, ver este produto que nos chama hoje, procedente da Colômbia, Israel e Polônia, resulta “uma boa pedida”.

A trama de “Meu Vizinho Adolf” (My Neighbor Adolf) é, aparentemente, muito simples: Mr. Polsky (David Hayman), um ancião que resulta ser judeu vítima dos nazistas na Segunda Guerra, agora (ano de 1960) afastado, magoado e mal-humorado, mora no interior da Colômbia.

Sua solidão e relativa calma vê-se ameaçada quando no local contíguo chega um morador, Mr. Herzog (Udo Kier). Para piorar, esse novo vizinho tem todas as características que o fazem suspeito de ser, nada menos que Adolf Hitler. Além dele, uma representante, Frau Kaltenbrunner (Olivia Silhavy), também é pouco cordial e nada digna de confiança.

Dada uma série de chamativas coincidências entre Herzog e Hitler, Mr. Polsky vai à representação israelense que há na cidade mais próxima para denunciar perante a Oficial de Inteligência (Kineret Peled) tal fato. Nesta altura e depois de um início muito simplório, o longavai ganhando consistência, embora tenha algumas leves pitadas de humor.

Até aqui revelamos o que pode ser contado deste filme dirigido e em parte roteirizado pelo nascido na URSS, Leon Prudovsky neste, seu segundo longa-metragem, do que vai acontecendo em “Meu Vizinho Adolf”, porque o que continua está muito bem escrito e realizado. As reviravoltas que se sucedem são inúmeras e estão criadas para surpreender uma e outra vez ao público. Falar mais, detalhá-las, seria um spoiler que trairia a característica principal da realização.

É suficiente dizer que o relato vai criando na mente do espectador diversas figuras, que depois são derrubadas para criar outras, total ou parcialmente diferentes. E assim, sucessivamente. Até chegar a um final que puxa muitos – ou todos – os fios que foram tecidos ao longo de 96 minutos e traz emoção muito apropriada.

Prudovsky foi competente na formulação e concepção (ideação, criação conceitual) do filme. Soube utilizar os atores e atrizes, principalmente os experientes David Hayman (britânico, já com 55 longas na sua carreira) e Udo Kier (alemão, com 155 longas, inclusive, representando Hitler). Não desentoam as já mencionadas atrizes, a austríaca Olivia Silhavy e Kineret Peled.

Correta fotografia do polonês Radek Ladczuk (em seu 29º longa) e muito boa a edição do francês Hervé Schneider (47 longas, dentre eles Amelie e Delicatessen).

Por tudo isso, roteiro, direção, atuações e pessoal técnico com amplos antecedentes, Prudovsky construiu uma obra muito interessante, fácil de ser entendida embora sua condição de comédia-dramática-policial já que, pelo geral, são obras complexas e até de difícil compreensão. Esta é bastante simples, porém plena de elementos e muitas mudanças, e tem um final preciso.

por Tomás Allen – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.