Crítica: Memória


Em “Memória” (Memoria) a personagem principal, Jessica, já não consegue dormir desde que escutou um estranho e forte som perto do amanhecer. Em meio a uma irmã misteriosamente doente, uma amiga arqueóloga que estuda vestígios humanos e as florestas de Bogotá, o filme trata sobre a busca pela origem do estranho som que aparece, repetidamente, para a protagonista.

O longa é de Apichatpong Weerasethakul, conhecido por obras contemplativas que misturam um ritmo calmo, belas paisagem e acontecimentos estranhos – e por vezes perturbadores -, em meio a pessoas comuns.  Este é o primeiro trabalho do diretor e roteirista tailandês filmado fora da Tailândia, e também o primeiro a contar com uma grande atriz hollywoodiana.

A história tem início em Bogotá, Colômbia, quando Jessica, interpretada por Tilda Swinton, uma orquidologista escocesa que vive perto da cidade de Medellín, vai visitar sua irmã que está internada.

Conforme aumenta o misterioso som que a perturba cada vez mais, não só durante a noite, mas também ao longo dos dias, ela começa uma busca pelo que seria a origem do estranho som, o que gera uma jornada peculiar e quase que onírica. O suspense e a busca da personagem por uma resposta prende o espectador, que também passa a ansiar por uma explicação de tudo que está acontecendo.

Tilda Swinton está ótima no papel. A atriz, muitas vezes cotada para fazer figuras fantásticas e excêntricas, aqui representa uma pessoa comum em meio a algo incomum (o tal som estranho que a incomoda). Ela consegue passar uma suave melancolia que anda lado a lado com uma perseverança em descobrir a origem do mistério no meio do qual se encontra.

A produção, que está longe de ser convencional, é lenta, e pode ser um tanto inacessível para a boa parte do público, mas, mesmo tendo um ritmo diferente, merece receber uma chance daqueles só acostumados com títulos mainstream. Ao invés de esperar uma série de acontecimentos e reviravoltas, quem assiste deve se ater mais ao caráter reflexivo da obra, e contemplar as belas cenas que o diretor entrega.

“Memória” trata justamente do que compõe o seu título: memória de coisas esquecidas, memória do que já fomos, memória daqueles que estão – ou estiveram – à nossa volta, e de uma forma estranha, até mesmo a memória do que seremos e do que ainda está por vir.

por Isabella Mendes – especial para CFNotícias

*Titulo assistido em Cabine de Imprensa promovida pela O2 Play.